segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

“Angústia”

[conto do escritor russo Antón P. Tchékhov]
A quem confiar minha tristeza? (1)
Crepúsculo vespertino. Uma neve úmida, em grandes flocos, remoinha preguiçosa junto aos lampiões recém-acesos, cobrindo com uma camada fina e macia os telhados das casas, os dorsos dos cavalos, os ombros das pessoas, os chapéus. O cocheiro Iona Potapov está completamente branco, como um fantasma. Encolhido o mais que pode se encolher um corpo vivo, está sentado na boléia, sem se mover. Tem-se a impressão de que, mesmo que caísse sobre ele um montão de neve, não consideraria necessário sacudi-la... Seu rocim está igualmente branco e imóvel. Graças a sua imobilidade, à angulosidade das formas e ao perpendicular de estaca de suas patas, parece mesmo, de perto, um cavalinho de pão-de-ló de um copeque. Seguramente, ele está imerso em meditação. Não pode deixar de meditar quem foi arrancado do arado, da paisagem cinzenta e familiar, e atirado nessa voragem, repleta de luzes monstruosas, de um barulho incessante e de gente correndo...
Faz muito tempo que Iona e seu rocim não se mexem do lugar. Saíram de casa ainda antes do jantar, e, até agora, não apareceu trabalho. Mas, eis que a treva noturna desce sobre a cidade. A palidez das luzes dos lampiões cede lugar a cores vivas e a confusão das ruas torna-se mais barulhenta.
- Cocheiro, para a Víborgskaia! - ouve Iona. - Cocheiro!
Estremece e vê, através das pestanas cobertas de neve, um militar de capote com capuz.
- Para a Viborgskaia! - repete o militar. - Está dormindo? Para a Víborgskaia!
Em sinal de consentimento, Iona puxa as rédeas, e a neve cai em camadas de seus ombros e do dorso do cavalo... O militar senta-se no trenó. O cocheiro faz ruído com os lábios, estende o pescoço à feição de cisne, ergue-se um pouco e agita o chicote, mais por hábito que por necessidade. O cavalinho estica também o pescoço, entorta as pernas, que parecem estacas, e desloca-se com indecisão...
- Onde vai, demônio?! - ouve, logo depois, Iona exclamações partidas da massa escura de gente, que se desloca em ambos os sentidos. - Para onde te empurram os diabos? Mantenha-se à direita!
- Não sabe dirigir! Olha a direita - zanga-se o militar.
O cocheiro de uma carruagem solta impropérios; um transeunte, que atravessou a rua correndo e chocou-se com o ombro contra a cara do rocim, lança um olhar rancoroso e sacode a neve da manga. Na boléia, Iona parece sentado sobre alfinetes e aponta com os cotovelos para os lados; seus olhos tontos perpassam pelas coisas, como se não compreendesse onde se encontra e o que está fazendo ali.
- Que gente canalha! - graceja o militar. - Eles se esforçam em chocar-se contra você ou cair embaixo do cavalo. Combinaram isso.
Iona volta-se para o passageiro e move os lábios... Sem dúvida, quer dizer algo, mas apenas uns sons vagos lhe saem da garganta.
- O quê? - pergunta o militar.
Iona torce a boca num sorriso, faz um esforço com a garganta e cicia:
- Pois é, meu senhor, assim é... perdi um filho esta semana.
- Hum!... De que foi que morreu?
Iona volta todo o corpo na direção do passageiro e diz:
- Quem é que pode saber! Acho que foi de febre... Passou três dias no hospital e morreu... Deus quis.
- Dá a volta, diabo! - ressoa nas trevas uma voz. - Não está mais enxergando, cachorro velho? É com os olhos que tem que olhar!
- Anda, anda... - diz o passageiro. - Assim, não chegamos nem amanhã. Mais depressa!
O cocheiro estica novamente o pescoço, ergue-se um pouco e agita o chicote, com uma graciosidade pesada. Depois, torna a olhar algumas vezes para o passageiro, mas este fechou os olhos e parece pouco disposto a ouvir. Depois de deixá-lo na Víborgskaia, pára diante de uma taverna, encurva-se sobre a boléia e fica novamente imóvel... A neve molhada torna a pintá-lo de branco, juntamente com o rocim. Decorre uma hora... outra...
Três jovens passam pela calçada, fazendo muito barulho com as galochas e trocando impropérios: dois deles são altos e magros, o terceiro é pequeno e corcunda.
- Cocheiro, para a Ponte Politzéiski! - grita o corcunda, com voz surda. - Damos vinte copeques... os três!
Iona sacode as rédeas e faz ruído com os lábios. Vinte copeques são um preço inadequado, mas, agora, pouco lhe importa o preço... Tanto faz seja um rublo ou cinco copeques, contanto que haja passageiros... Empurrando-se e soltando palavrões, os jovens acercam-se do trenó e sobem para os assentos, os três ao mesmo tempo. Começam a discutir a questão: dois deles irão sentados, e quem vai ficar de pé? Depois de uma longa troca de insultos, manhas e recriminações, chegam à conclusão de que o corcunda é quem deve ficar de pé, por ser o menor.
- Bem, faz o cavalo andar! - grita com voz trêmula o corcunda, ajeitando-se de pé e soprando no pescoço de Iona. - Dá nele! Que chapéu você tem, irmão! Não se encontra um pior em toda Petersburgo...
- Hi-i... hi-i... - ri Iona. - Assim é...
- Ora, você assim é, bate no cavalo! Vai andar desse jeito o tempo todo? Sim? E se eu te torcer o pescoço?
- Estou com a cabeça estalando... - diz um dos moços compridos. - Ontem, em casa dos Dukmassov, eu e Vaska
(2) tornamos quatro garrafas de conhaque.
- Não compreendo para que mentir! - irrita-se o outro moço comprido. - Mente como um animal.
- Que Deus me castigue, é verdade...
- Tão verdade como um piolho tossindo.
- Hi-i! - ri Iona entre dentes. - Que senhores alegres!
- Irra, com todos os diabos!... - indigna-se o corcunda. - Você vai andar ou não, velha peste? É assim que se anda? Estala o chicote no cavalo! Eh, diabo! Eh! Dá nele!
Iona sente, atrás de si, o corpo agitado e a voz trêmula do corcunda. Ouve os insultos que lhe são dirigidos, vê gente, e o sentimento de solidão começa, pouco a pouco, a deixar-lhe o peito. O corcunda continua os impropérios e, por fim, engasga com um insulto rebuscado, descomunal, e desanda a tossir. Os moços compridos começam a falar de uma certa Nadiejda Pietrovna. Iona volta a cabeça para olhá-los. Aproveitando uma pausa curta, olha mais uma vez e balbucia:
- Esta semana... assim... perdi meu filho!
- Todos vamos morrer. - suspira o corcunda, enxugando os lábios, após o acesso de tosse. - Bem, bate nele, bate nele! Minha gente, decididamente, não posso continuar andando assim! Esta corrida não acaba mais?
- Você deve animá-lo um pouco... umas pancadas no pescoço!
- Está ouvindo, velha peste? Vou te moer o pescoço de pancada! Não se pode fazer cerimônia com gente como você, senão é melhor andar a pé! Está ouvindo, Zmiéi Gorínitch
(3)? Ou você não se importa com o que a gente diz?
E Iona ouve, mais que sente, os sons de uma pancada no pescoço.
- Hi-i... - ri ele. - Senhores alegres... que Deus lhes dê saúde!
- Cocheiro, você é casado? - pergunta um dos compridos.
- Eu? Hi-i... que senhores alegres! Agora, só tenho uma mulher, a terra fria... Hi-ho-ho... O túmulo, quer dizer!... Meu filho morreu, e eu continuo vivo... Coisa esquisita, a morte errou de porta... Em vez de vir me buscar, foi procurar o filho...
E Iona volta-se, para contar como lhe morreu o filho, mas, nesse momento, o corcunda solta um suspiro de alívio e declara que, graças a Deus, chegaram ao destino. Tendo recebido vinte copeques, Iona fica por muito tempo olhando os pândegos, que vão desaparecendo no escuro saguão. Está novamente só e, de novo, o silêncio desce sobre ele... A angústia que amainara por algum tempo torna a aparecer, inflando-lhe o peito com redobrada força. Os olhos de Iona correm, inquietos e sofredores, pela multidão que se agita de ambos os lados da rua: não haverá, entre esses milhares de pessoas, uma ao menos que possa ouvi-lo? Mas a multidão corre, sem reparar nele, nem na sua angústia... Uma angústia imensa, que não conhece fronteiras. Dá a impressão de que, se o peito de Iona estourasse e dele fluísse para fora aquela angústia, daria para inundar o mundo e, no entanto, não se pode vê-la. Conseguiu caber numa casca tão insignificante, que não se pode percebê-la mesmo de dia, com muita luz...
Iona vê o zelador de uma casa, carregando um embrulho, e resolve travar conversa.
- Que horas são, meu caro? - pergunta.
- Mais de nove... Por que você parou aqui? Passa!
Iona afasta-se alguns passos, torce o corpo e entrega-se à angústia... Considera já inútìl dirigir-se às pessoas. Mas, decorridos menos de cinco minutos, endireita-se, sacode a cabeça, como se houvesse sentido uma dor aguda e puxa as rédeas... Não pode mais.
“Para casa”, pensa, “para casa”.
E o cavalinho, como se tivesse compreendido seu pensamento, começa a trotar ligeiramente. Uma hora e meia depois, Iona está sentado junto ao fogão grande e sujo. Há gente roncando em cima do fogão, no chão e sobre os bancos. O ar é abafado, sufocante... Iona olha para os que dormem, coça a cabeça e lamenta haver voltado tão cedo para casa...
“Não ganhei nem para a aveia”, pensa. “Daí essa angústia. Uma pessoa que conhece o ofício... que está bem alimentada e tem o cavalo bem nutrido também, está sempre calma...”
Num dos cantos, levanta-se um jovem cocheiro, funga, sonolento, e arrasta-se para o balde d'água.
- Ficou com sede? - pergunta Iona.
- Com sede, sim!
- Bem... Que lhe faça proveito... Pois é, irmão, e eu perdi um filho... Está ouvindo? Foi esta semana, no hospital... Que coisa!
Iona procura ver o efeito que causaram suas palavras, mas não vê nada. O jovem se cobriu até a cabeça e já está dormindo. O velho suspira e se coça... Assim como o jovem quis beber, assim ele quer falar. Vai fazer uma semana que lhe morreu o filho e ele ainda não conversou direito com alguém sobre aquilo... É preciso falar com método, lentamente...
É preciso contar como o filho adoeceu, como padeceu, o que disse antes de morrer e como ele morreu... É preciso descrever o enterro e a ida ao hospital, para buscar a roupa do defunto. Na aldeia, ficou a filha Aníssia... É preciso falar sobre ela também... De quantas coisas mais poderia falar agora? O ouvinte deve soltar exclamações, suspirar, lamentar... E é ainda melhor falar com mulheres. São umas bobas, mas desandam a chorar depois de duas palavras.
“É bom ir ver o cavalo”, pensa Iona. “Sempre há tempo para dormir...

Veste-se e vai para a cocheira, onde está seu cavalo. Iona pensa sobre a aveia, o feno, o tempo... Estando sozinho, não pode pensar no filho... Pode-se falar sobre ele com alguém, mas pensar nele sozinho, desenhar mentalmente sua imagem, dá um medo insuportável...
- Está mastigando? - pergunta Iona ao cavalo, vendo seus olhos brilhantes. - Ora, mastiga, mastiga... Se não ganhamos para a aveia, vamos comer feno... Sim... Já estou velho para trabalhar de cocheiro... O filho é que devia trabalhar, não eu... Era um cocheiro de verdade... Só faltou viver mais...
Iona permanece algum tempo em silêncio e prossegue:
- Assim é, irmão, minha egüinha... Não existe mais Kuzmá Iônitch... Foi-se para o outro mundo... Morreu assim, por nada... Agora, vamos dizer, você tem um potrinho, que é teu filho... E, de repente, vamos dizer, esse mesmo potrinho vai para o outro mundo... Dá pena, não é verdade?
O cavalinho vai mastigando, escuta e sopra na mão de seu amo... Iona anima-se e conta-lhe tudo...

(1886)

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(1). Versículo de um canto da Igreja Russa.
(2). Diminutivo de Vassíli.
(3). Nas lendas russas, um dragão que representa o mal. No entanto, o nome Gorínitch dá também idéia de tristeza, aflição.

domingo, 2 de dezembro de 2007

“A menina dos fósforos”

[conto do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen]



Fazia um frio terrível, nevava e começava a escurecer.
Era a última noite do ano, a noite de Ano Bom. No frio e na escuridão, andava, pela rua, uma garotinha pobre, descalça, de cabeça descoberta. Mas os chinelos eram grandes demais, sua mãe os havia usado antes e, de tão grandes que eram, a menina os perdera ao atravessar a rua correndo, no momento em que dois carros passaram a toda velocidade. Não conseguira encontrar um dos chinelos, e o outro, um rapaz levara dizendo que o usaria como berço quando tivesse filhos.
Lá ia pois, a menina, com os pezinhos nus, arroxeados de frio. Trazia num velho avental certa porção de fósforos e segurava um pacotinho deles na mão. O dia inteirinho ninguém lhe comprara um só palito de fósforo, ninguém lhe dera um níquel. Sofrendo frio e fome, a pobrezinha, andando pela rua, parecia apavorada. Os flocos de neve caíam-lhe sobre os longos cabelos louros, que formavam graciosos cachos em torno da nuca - mas a menina estava longe de pensar em cabelos bonitos.
Todas as janelas estavam iluminadas, e chegava até a rua um aroma delicioso de ganso assado, pois era a noite de Ano Novo. Nisso, sim ela pensava.
Por fim, ela encolheu-se num canto, entre duas casas: uma delas avançava mais sobre a rua que a outra. Sentou-se, envolveu as perninhas, mas continuava a sentir frio. Não tendo vendido um único fósforo, não possuindo um único níquel, não ousava ir para casa, onde o pai bateria nela. Além disso, também fazia frio na casa onde moravam - uma casa sem forro, com o telhado cheio de fendas, por onde o vento sibilava, apesar de haverem tapado muitas delas com palha e trapos. Suas mãozinhas estavam enregeladas. Um pequenino fósforo lhes faria bem. Pudesse ela, com os dedos duros, puxar um fósforo do pacotinho, riscá-lo contra a parede e aquecer os dedos! Conseguiu-o, afinal; tirou um e riscou-o. Como o fósforo ardeu e crepitou! A chama clara e quente parecia uma velinha, quando a envolveu com a mão. Era uma luz estranha. A garotinha imaginou estar sentada em frente a uma grande lareira de ferro, com adornos e um tambor de latão polido. O fogo crepitava alegremente e aquecia tanto... Que beleza! A pequena já ia estendendo os pés para aquecê-los também... quando a chama se apagou e a lareira desapareceu. Ela estava sentada na rua, com um pedacinho de fósforo queimado na mão.
Riscou novo fósforo, que ardeu, claro, brilhante. Onde o clarão incidiu, a parede tornou-se transparente como um véu. Ela viu então o interior da casa, onde estava posta uma mesa, com toalha muito alva e fina porcelana. O ganso assado fumegava, recheado de ameixa e maçãs e, o que foi ainda mais extraordinário, de repente o ganso pulou da travessa e saiu cambaleando pela sala, com o garfo e a faca espetados nas costas. Veio vindo assim até ao pé da menina pobre. Aí o fósforo se apagou, e só se via a parede, grossa e fria.
Ela acendeu outro fósforo. Viu-se sentada sob os ramos da mais linda árvore de Natal. Era ainda maior e mais enfeitada que a árvore que ela vira através da porta envidraçada, na sala do rico negociante, no Natal passado. Milhares de velas ardiam no ramos verdes, e figuras coloridas, como as que adornam as vitrinas das lojas, a fitavam. A pequena estendeu as mãos para o alto - mas nisso o fósforo se apagou. As velas de Natal foram subindo, cada vez mais, e ela viu que eram estrelas cintilantes. Uma delas caiu, traçando um longo risco de fogo no céu.
- Deve ter morrido alguém - disse a pequena.
A velha avó, única pessoa que lhe quisera bem, mas já estava morta, costumava dizer: “Quando uma estrela cai, sobe aos céus uma alma”.
- A menina tornou a riscar um fósforo contra a parede. No clarão produzido em volta, ela viu, radiante e iluminada, a velha avó, meiga e bondosa.
- Vovó! - gritou a pequena. - Leva-me contigo! Sei que não mais estarás aí quando o fósforo se apagar. Desaparecerás, como a boa lareira, o delicioso ganso assado e a grande, linda árvore de Natal!
Riscou às pressas o resto dos fósforos que havia no pacotinho, para ter a avó ali a seu lado e retê-la. O clarão dos fósforos tornou-se mais intenso que a luz do dia. Nunca a avó fora tão grande e bela. Ergueu a manina nos braços e as duas voaram, felizes, para as alturas, onde não havia frio nem fome, nem apreensões, voaram para junto de Deus.
Quando raiou a manhã, muito fria, encontraram ali no cantinho, entre as duas casas, a menina, com as faces coradas e um sorriso a brincar-lhe os lábios. Estava morta, gelada. Morrera de frio na última noite do ano velho. A aurora do Ano Novo brilhava sobre o pequenino cadáver, que jazia com os fósforos nas mãos. Um maço inteiro estava queimado.
- Ela quis se aquecer-se - disseram.
Ninguém sabia que maravilhas ela vira, nem imaginava o esplendor que a cercara, com a velha avó, nas alegrias do Ano Novo.


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Fragmentos # 01

São exatamente 0h07 e meu pai está pululante porque, segundo ele, o Corinthians caiu para a segunda divisão. Fato extremamente significativo para a história da humanidade, claro.


Amigos musicais são muito interessantes. Gosto muito deles. Agora, por exemplo, estou ouvindo uma música chamada “Lover, you should've have come over”, do Jeff Buckley, que foi indicação de um grande amigo. Aliás, amigo esse que já me apresentou e indicou tanta coisa... Acho que devo mais uns doces pra ele.


Juro que há momentos em que eu não gosto desse lugar... Por exemplo, leitor-gasparzinho, verifique o último post. O que é aquilo? Epifania surrealista? Completa falta de lucidez? Insônia tediosa misturada com um pouco de viagem sem volta na Hellmann's? Dúvidas, dúvidas...


[cantarolando] “... et il fait encore noir, elle descend le boulevard, elle s'en va...”.


Por que morango só existe no inverno?


Os seres humanos são incomunicáveis.


Em muitas ocasiões, timidez é uma desgraça.


Trident e Halls de melancia: as mais novas invenções revolucionárias para paladares de pessoas-formigas que não vivem sem açúcar.


Compra-se cabana no fim do mundo. Vendedores?


Arte deveria ser distribuída gratuitamente em saquinhos pelas esquinas mais movimentadas.


Um brinde às vozes roucas e aos olás calados.


Sempre pagamos um alto preço sendo o que somos ou sendo o que queremos ser.



Eu acreditei no Papai Noel, assisti X-Tudo e Glub Glub, sempre tive esperanças de que o pessoal da Caverna do Dragão encontrasse o caminho de volta pra casa, me sujei na terra, adorava o jeito que o Snarf chamava o Lion em Thunder Cats, já inventei mil histórias de bruxas e fadas pra poder brincar, nunca quebrei nenhuma parte do corpo e há dias em que a minha única filosofia é à la Garfield e o meu ânimo segue o do Charlie Brown. Será que ainda vendem pirocópteros?


Van Gogh, Nietzsche e Einstein eram caras legais.


Omar é o mar e o mar é um ar. Amar Omar é amar o mar ou um ar?


As madrugadas deviam ser eternas.


Às vezes acho que minha mente bem que podia ter vindo com um botão de desligar. Que falha grave de fabricação!


Lâmpadas, travesseiros e post-its são tão poéticos...


Falar é uma das tarefas mais complexas do ser humano. Tão complexa que há tanto gente que tem tanto medo de ensaiar que se perde no silêncio, quanto há pessoas que de tanto ensaiar se jogam na imensidão da prolixidade. Mas, enfim, tanto faz, continuamos incomunicáveis. (E cheios de vírgulas e de tantos).


Arroz sobre feijão ou feijão sobre arroz? O vício da virtude ou a virtude do vício? Catchup ou mostarda? It's better to be a living dog or a dead lion*? Rio ou São Paulo? Nescau ou Toddy? Reticências ou ponto de interrogação? Perguntas idiotas ou respostas cretinas?
Esquece...
.
.
.

Café com leite?


Como já dizia Drummond: “Eta vida besta, meu Deus” (verso do poema “Cidadezinha qualquer”).




* citação parafraseada do filme “Something Wild” (1986).

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Manhã, coelho azul

Era sempre como se espreguiçar numa teia de aranha gigante, pendente do céu. Ou então como rodopiar sem medo de cair. Era como receber o telefonema tão inesperado da pessoa mais adorada. Como dançar com o desajeito de quem não sabe articular em harmonia os pedaços do corpo.
Era só mais uma manhã perdida, empurrada pelo tempo contínuo de uma palavra qualquer. Era só mais um suspiro fundo de uma sede sem fim. Era só um toque na nuca, um vão aberto na alma. Uma manhã de sol lindo, lindo, com algodão espelhado na pele, espalhado no ar, grudado no pulmão. (Breath, breath, little girl, take a deep breath and open your beautiful eyes to me).
Só mais uma manhã, jogada no calendário como um número inútil que engole o tempo. E o som pesado, o marasmo quase choroso, o tédio de uma solidão perdida ali naquele canto onde um coelho azul acabou de se esconder. Sim, um coelho azul, azul. E triste, triste.
Um coelho que corre para o seu castelo de cartas, dentro de uma cerca de vidro, sob um grande lençol quadriculado de promessas e vento. Um coelho azul que fica lá com os seus olhos enormes observando a teia de aranha, o corpo sem articulação, o algodão desperdiçado num sol branco de espasmos. Ele se assusta sempre, com cada estalo das árvores, com cada folha que se joga lá de cima no suicídio natural de se espatifar no chão. Ele se assusta com o azul gêmeo do céu, com os cheiros da realidade, com o gelado de cada gota orvalhada que a manhã lhe cospe, doucement. Ele se assusta, e todo enrolado se encolhe em seu lençol, se apóia
no vidro, se perde nas paredes do seu castelo de puro papel.
Ali era sempre como segurar o coelho azul no colo e afundar os dedos naquelas orelhas de anil aneladas. Era sempre como ter uma incomum bola de pêlos protegida e aquecida entre os braços. Era sempre, sempre como ter um lindo coelho azul amarrado dentro da garganta.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

[...]

“love is touching souls”.

(trecho de A case of you, Joni Mitchell)

*

Como se o silêncio fosse vasto. Como se flores tivessem sido mastigadas. Como se um gesto resolvesse o mundo. Como se houvesse mel dentro do poço. Como se todo o relativo fosse absoluto. Como se o frio cheirasse a corpo. Como se o silêncio fosse vasto.

*

Unirei corações.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Sobre “Little Miss Sunshine”

“Who is that? Nietzsche? So you stopped talking
because of Friedrich Nietzsche? Far out”.
(Frank para Dwayne in Little Miss Sunshine)

***

“Everyone, just... pretend to be normal”.
(Richard in
Little Miss Sunshine)

***


Eu ainda não tinha assistido a “Little Miss Sunshine” quando me falaram dele como “um Amélie Poulain, só que americano”. Logo depois que o assisti, por algum desses dias, fiquei pensando se ele realmente seria só uma versão americanizada do “Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain” e, sinceramente, cheguei à conclusão de que a comparação não poderia ser feita assim de um modo tão direto.
É claro que há pontos de contato entre o filme americano e o francês, mas acredito que “Little Miss Sunshine”, por mais que tenha um final positivo e altruísta, toca em pontos mais sensíveis e menos engraçados do que aqueles retratados pela visão peculiar da personagem de Audrey Tatou.
Esses pontos se desdobram sobre assuntos como a incomunicabilidade, o desejo de realizar sonhos impossíveis, a decepção, a falta de atenção entre pessoas que vivem tão próximas, o isolamento e o individualismo (“where's Olive?”), a inocência, o egoísmo, a valorização de padrões de beleza inúteis, o preconceito, a crença em universos falsos, de plástico, de isopor, que desmoronam de um momento a outro. Enfim, é um grande questionamento sobre o que realmente importa, sobre o que vale a pena como valores para a vida e como forma de convivência com aqueles que você ama.
Uma das coisas que me chamou a atenção em “Little Miss Sunshine” foi o encadeamento na apresentação das personagens, ainda no início do filme. Cada uma vai aparecendo com a sua esquisitice maior (“
she's a superfreak”, como diz uma das letras da trilha sonora), com o seu ponto fraco, com aquilo que a faz ser loser num mundo de winners*. A mãe fumante, o pai que filosofa uma alto-ajuda barata, o tio suicida (e também o maior estudante de Proust dos Estados Unidos, remarquemos isso), o irmão adolescente silenciado por uma promessa impossível de ser realizada e mergulhado nas idéias de Nietzsche, o avô viciado em drogas e, claro, a nossa pequena Olive, que sonha em ser miss.
A cena inicial é linda, e a trilha sonora que a segue cai perfeitamente. Olive vendo e revendo uma fita com a reação de uma miss que acaba de vencer um concurso. Olive assiste a essa cena com os olhos acesos atrás daqueles óculos enormes, o rosto redondo e iluminado, em devaneio, num sonho que acaba por envolver toda a família e fazer com que, a partir de uma viagem pra lá de inusitada e, também, a partir da revelação da verdadeira estrutura da família e de cada um deles, eles se unam e percebam que ser diferente, não fazer parte, que sofrer e aprender com isso, enfim, que todas as coisas que todos excluem e desprezam, no final (pasmem!), são as melhores
. E é incrível como eu concordo absolutamente com isso.
Uma das cenas mais fortes é aquela em que Dwayne, irmão mais velho de Olive, descobre ser daltônico. É como um castelo de espuma que vai se desfazendo a cada batida desesperada que ele dá na parte interna do carro. E o castelo implode com aquele grito, que é nosso também. É aquele que você dá quando as coisas não vão bem e a sua vida acaba se quebrando aos seus pés. Mas, talvez, o abraço desajeitado de uma Olive a qual poucos enxergam de verdade nos ponha em pé novamente, pra pegar o carro e voltar a seguir essa viagem ensandecida, seja lá para onde estivermos indo.
Aconselho “Little Miss Sunshine”. Não como uma versão de um famoso filme francês, mas como um filme simples, daqueles que você assiste num sábado à tarde qualquer, ensolarado ou não. Entre naquela kombi amarela, acompanhe Olive na viagem para o concurso Little Miss Sunshine. É o sonho dela. É tanto nesse percurso quanto chegando lá que ela e sua família aprendem o que realmente importa, o que vale a pena valorizar. E talvez a gente aprenda um pouco com eles também.

(A trilha sonora é sensacional).

* ilustro a filosofia por trás do filme.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Bukowski, Miller, Hemingway, Woolf, Kafka, Clarice, Guimarães, Rubião, Tchékhov, Drummond...

Recentemente a leitura de um livro do Bukowski me fez perder a noção tempo-espaço. Conhecendo a dona desse blog como eu conheço, digamos que esse foi um grande feito. Assim, dedico esse post não só ao meu querido e sujo Henry Charles Bukowski (1920-1994), mas também a outros tantos escritores pelos quais cultivo uma enorme admiração.
Eu conheci Bukowski através da leitura de um livro chamado “O Azul do Filho Morto”, de Marcelo Mirisola. Segundo uma resenha que li num site qualquer, o estilo de Mirisola se assemelhava ao dos escritores norte-americanos da
beat generation, dentre eles Bukowski, Henry Miller, Burroughs, Kerouac e etc.
A literatura de Bukowski é uma literatura depravada, bêbada e degradante, além, claro, de ser fortemente autobiográfica. As personagens são sempre cinzas, miseráveis, com álcool e desilusão saindo pelos poros. A linguagem é fluida, muitas vezes cortante e com metáforas incrivelmente inusitadas. Bukowski escreve o que tem de escrever sem meias palavras, abusa de seu forte poder descritivo e pincela em suas narrativas traços de um humor quase triste, mas ainda assim humor. Enfim, uma literatura que cai aos pedaços, largada e bêbada, muito bêbada.

Dessa leva de escritores da geração beat norte-americana, ainda não me aventurei no famoso “On the Road” de Kerouac (1922-1969), mas já mergulhei um pouco em Henry Miller (1891-1980) e nem preciso dizer que adorei. Miller é menos alcoolizado que Bukowski, mas a depravação e a linguagem incisiva continuam as mesmas. O único livro dele que li foi “
Sexus”, parte de sua famosa trilogia “A Crucificação Encarnada” (também com os livros “Plexus” e “Nexus”), e nesse livro eu destaco os enormes trechos que discutem o papel do escritor, da arte e também o papel do próprio fazer literário. Essa trilogia de Miller parece ser, a meu ver, menos famosa do que o par “Trópico de Câncer” e “Trópico de Capricórnio”, porém desses eu não posso falar nada ainda, pois eles ainda estão na lista dos livros para serem lidos em breve.
Pensando em literatura norte-americana, não posso deixar de também assinalar minha simpatia por alguma coisa de Hemingway (1899-1961). Tive contato com alguns de seus contos há alguns anos. Muito bons.

Em relação à literatura inglesa, além de Poe (1809-1849), deixo em registro a minha adoração por Virginia Woolf (1882-1941). O único problema é que não cheguei a ler nenhuma de suas obras integralmente... Ok, deixe-me explicar. A culpa de tudo é do filme “The Hours” e também do livro “Mrs. Dalloway”, o qual li um terço e tive de abandonar a leitura em razão de outros compromissos (por “outros compromissos” entenda “leituras obrigatórias da faculdade”). É a partir do filme e dessa leitura parcial que surge a minha admiração pela Woolf. Assim, tanto a leitura integral de “Mrs. Dalloway” quanto de “Orlando” também estão na lista mencionada anteriormente.
Bem, Kafka. Ok, eu sei que não é todo mundo que gosta de Kafka (1883-1924) ou que ao menos o entende, mas, preciso dizer: amo Kafka. Já li quase toda sua obra. A poética kafkiniana é paralisante, é pesada, é de sufocar. O poder imenso e invencível que nos limita sem cessar, que
interrompe até o nosso pensamento. Ainda me lembro de “O Veredito”, ou então do aclamado “A Metamorfose”, “O Médico Rural”, os contos, as imagens, o maquinário... Maravilhoso.
Clarice... Clarice (1920-1977) é uma história um pouco mais antiga. Leio a obra dela com
um cuidado e um prazer sem comparação. Tenho o cuidado porque a leitura de suas obras é densa, dolorida. Quem nunca sentiu aquele sentimento amorfo com “A Hora da Estrela”? Ou ainda a densidade de algum dos contos que ela escreveu? O prazer, por sua vez, vem do trabalho que ela faz com a linguagem, aquele fio de palavras que vai se desprendendo como se fosse mágica. Clarice Lispector é leitura pra vida inteira, assim como Guimarães Rosa (1908-1967), outro gigante da literatura brasileira.
Guimarães é do tamanho do mundo. Costumo dizer que a leitura das obras escritas por ele deve ser feita suavemente e em doses homeopáticas. A ordem do universo está ali, e aquela linguagem é pra ser saboreada palavra a palavra. Ainda me lembro do final emocionante de “Miguilim”... Perfeito.
Eu sempre gostei de literatura fantástica. Também de literatura infantil e contos de fada. Melhor, qualquer literatura que envolva o mundo infantil ou qualquer gota de fantasia e imaginação livre que seja. Nem preciso dizer que Hoffmann e irmãos Grimm, além de Perrault, Lewis Carroll e o livro “Le Petit Prince” de Saint-Exupéry fizeram e fazem minha vida mais feliz.
Pode parecer um pouco estranho alguém sentir o mesmo apreço por um conto de fadas dos irmãos Grimm, por um trecho de alguma obra de Bukowski e por algum conto de Kafka ou Poe. Mas, sinceramente, não acho que seja algo tão estranho assim se se pensar na questão das diversas facetas da arte da literatura. Não há como se apegar somente aos clássicos, aos surrealistas ou aos modernos. Cada vertente tem a sua beleza e o seu propósito, e é isso que faz com que o estudo da literatura seja tão interessante.
Ainda no campo da literatura fantástica, gosto muito de Murilo Rubião (1916-1991). Ele consegue montar imagens sem precedentes, fora que os contos dele sempre deixam aquela sensação de indefinição e de que há algo lá que você não conseguiu captar, como se fosse uma mensagem codificada.
Navegando um pouco agora nas águas geladas do hemisfério norte, cheguemos à literatura russa. Essa literatura é aclamada por tanta gente que nem sei se há muito o que comentar. Só ressalto que, ao contrário de muitas pessoas, meu escritor russo favorito não é Dostoiévski (1821-1881), mas sim Tchékhov (1860-1904), que me fez estudar a língua, a história, a cultura e a arte russas por dois anos. E também fez com que eu me apaixonasse pela Rússia, claro.
Tchékhov não é uma leitura para apreensão imediata. A sua linguagem é simples, mas o sentido não é tão acessível. Mesmo assim, ele é ótimo. (Dostoiévski também é ótimo, só que sua grandiosidade reside noutro ponto, que é aquela questão do dialogismo e da polifonia estudada por Bakhtin e etc.).
Deixei o grande Drummond (1902-1987) para finalizar (pois esse post já está ficando um tanto quanto grande demais, não?). Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que Drummond é o meu escritor maior. Gostaria de tê-lo conhecido ou ao menos o visto pessoalmente uma vez que fosse. Ele morreu dois anos depois de eu ter nascido. Mas um dia ainda vou ao Rio ver aquela estátua dele de perto.
Lembro de uma época em que tive de parar de ler Drummond porque de tão intensa aquela poesia toda estava me fazendo mal. Porém, logo desisti de querer que aquilo não me atingisse de alguma forma que eu não esperasse ou desejasse, pois poesia é isso mesmo. É aperto nos ossos, ar pesado, visão barrada, e tudo isso para que o mundo se mostre mais claro e amplo, para que certas coisas sejam entendidas ou desentendidas para sempre.
Enfim, leia Drummond. Clarice também, Kafka, Tchékhov, Guimarães, Woolf, tantos e tantos. Creio que o importante é só não ficar preso às trivialidades dos jornais, das revistas, dos outdoors e demais variantes, pois a leitura de um livro, qualquer que seja, sempre faz um bem enorme à saúde da mente, da alma.
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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Les chaussons blancs

Je la vois arriver avec ses chaussons blancs à la main. Elle les met lentement. Elle se regarde. La robe bleue et tiède, les cheveux noirs comme un cri attaché. Tout son corps en rubans et movements. Son âme ouverte pour laisser entrer doucement la musique.
Elle danse. Elle danse comme s'il n'aurait qu'elle dans le monde. Seule, belle. Ses pieds lacés racontent des secrets à l'air. Sa tête pendante, libre. Ses bras qui volent comme des papillons pâles perdues. Les yeux qui parlent en silence. Sa nuque plein de neige, son coeur en flammes vertes. L'univers qui respire léger et se separe. Un vulcan, une brise, une têmpete. Et elle danse et danse. Et sourit.

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[bande sonore: comptine d'un autre été: l'après-midi, yann tiersen]

sábado, 3 de novembro de 2007

511 dias

Engulo o abandono de Ana aos pedaços. Mas, bulímico, vomito tudo logo depois. Ana. E os nossos cabelos molhados.


Dois de setembro. Quinze horas. Metrô vazio. Ana sentada na cadeira de idosos. Eu, Folha, ela, Caras. Eu, amendoim torrado, ela, jujuba. Eu, estação Anhangabaú, ela, Sé.
Dezenove de setembro. Coincidência? Eu, cadeira de idosos, Ana, em pé. Eu e Ana, estação Liberdade. Escada rolante:
- Oi.
Movimento de cabeça.
- Olá.
Troca de telefones.
Vinte e cinco de setembro.
- Alô. Quero falar com a Ana.
- Não está.
- Não? Quando ela chega?
- Em um ano.
Papel amassado no fundo da gaveta.
Outubro. Babete. Lisa. Carla. As esqueço em quinze dias.
Novembro. Dezembro. Fevereiro. Junho. Outubro. Chuva. Desastres naturais. Vento. Gripe. Paixão passageira. Herpes. Desemprego. Emprego. Desemprego. Acidente. Carro e cara amassados. Onde está Ana? Onde Ana está?
Primeiro de novembro. Hospital. Eu, cadeira de rodas. Ana! repentinamente! na recepção!. Troca de olhares. Espanto. Taquicardia. Grito calado.
Apatia.
Nove de novembro. Combate com o papel amassado. Vitória minha.
Malditas muletas.
Tédio...
Revanche do papel amassado. Luta sangrenta. Ele vence.
Noite.
- Alô. Ana?
- Sim.
- Eh, oi. Paulo. Hospital. Dia primeiro. Cadeira de rodas.
- Metrô? Escada rolante?
- Sim. Tudo bem?
- Tudo. Você?
- Também. Cinema?
- Sim. Amanhã?
- Ótimo. Às oito?
- Certo. Qual estação?
- Sé?
- Ok, até!
Falta de saliva. Trovões. Durmo.
Natal. Ana, olhos azuis, vestido azul. Lençol vermelho. Teto caindo. Corpos amarelos. Gozo. Ana, uma profissional. Eu, apaixonado.
Trinta de dezembro. Ana confinada no meu apartamento. Olhos vidrados. Calma vulgar. Roupas espalhadas. A toco. Ela se desmancha. Ombros perdidos. Janelas fechadas. Palavras.
Trinta e um de dezembro. Eu e Ana enojados. Grudados. Vasculhei-lhe as veias. Ela preferiu meus dedos. Não amanhece.
Primeiro de janeiro. Ana sem voz me esquece enrolado em travesseiros. Não se despede. Agarra-se em trezentos reais. Leva minha foto, as chaves.
Dias de janeiro. Espero Ana sem descanso. Horas em frente ao espelho. Barbudo. Incolor. Acabo com os restos de silêncio que ela deixou.
Vinte de janeiro. Alta madrugada. Ana bêbada se joga ao meu lado. Dormimos abraçados.
Vinte e um de janeiro. Almoçamos cigarros e lágrimas. Ela, conversando com cada pêlo do meu corpo. Eu, abraçando cada pedaço de sua alma. Sozinhos.
Vinte e dois de janeiro. Madrugada. Ana não fala. Eu tento juntar nossos fragmentos. Ela se esquece. Desiste. Eu ainda tento juntar nossos fragmentos.
Vinte e dois de janeiro. Manhã. Ana acorda e abraça o sol. Sorri. Sorrio. Amamos. Nos perdemos. Beijo. Beijo.
Vinte e cinco de janeiro. Estamos práticos. Ela se muda e fica comigo. Compro toalhas. Ana passa horas no banheiro. Eu a agrado. Ela olha. Olha. Digo que a amo. Ela cala.
Vinte e seis de janeiro. Madrugada. Acordo. Cadê os braços de Ana?
Vou ao banheiro. Abro a janela. Ana correndo, sendo atravessada pela faixa de pedestres.
Não grito.

Tempestade, raio.
Ana molhada se perdendo na esquina escura. Sozinha, ausente, fugaz, flutuando no meio do nada. Eu, com a cabeça enfiada na água fria da privada, vomitando sua partida súbita e inexplicável. Definitiva.

[texto escrito em meados de 2006]

“Os Teclados”

Acabei de ler um livro simplesmente maravilhoso. Há tempos a leitura não despertava em mim sentimentos tão parecidos com aqueles que existiam antes de ela ter se tornado um instrumento de trabalho diário. São eles: prazer, compreensão, alívio e, ao mesmo tempo, um pouco de atordoamento. Sobretudo, uma compreensão calada, como se cada palavra, cada descrição estática, cada associação absurda caísse como uma gota de entendimento sobre o seu mundo.
O livro lido é “Os Teclados”, escrito em 1999 pela escritora portuguesa Teolinda Gersão
. Não quero aqui fazer o frio trabalho dos críticos literários de desbravar o texto com um olhar clínico e analítico, quero simplesmente manifestar o êxtase de uma leitora que, novamente, se encontra em seu silêncio com um livro.
Não estou querendo dizer com isso, também, que os livros que li recentemente não me trouxeram certa apreciação estética. Claro que trouxeram. A leitura de “Noites brancas” de Dostoiévski, ou ainda de “Luuanda” de Luandino Vieira ou de “Bom dia camaradas” de Ondjaki foram ótimas, com destaque para a beleza estrutural e irônica do primeiro e para o trabalho com a linguagem nos dois últimos. Porém, foi justamente esse olhar profissional sobre a obra que eu evitei no desenrolar do processo de leitura de “Os Teclados”.
Esse livro é líquido, melodioso, trágico. É poético e lindo. As descrições, as mesclas de realidades, as discussões sobre o caos e o cosmos, sobre o valor de troca no mundo, música, números, letras e literatura, circo, vida em repressão e liberdade, sereias e trapezistas, o mundo em sua ordem e desordem e o nosso papel nele, tudo está lá, latente, inclusive nossa solidão frente às nossas escolhas e renúncias, os sons da natureza, o diálogo entre os teclados... Enfim, um livro magnífico, que vale muito a leitura num sábado à noite qualquer. =)

Pontos

Ponto negro no espaço branco. Mosca sobre tinta. Parede. Teto. Chão. Porta: fechada.
Eu balanço a cadeira, ela me balança. A mosca se assusta, voa. Me encara, vira as costas. Caminho com a unha do polegar em riste. A esmago, mancho a parede. Ponto amarelo sobre o fundo branco.
O computador piscando. Os olhos doendo. O mouse e a mão se apoiando ternamente. Números se pendurando na lâmpada e querendo pular da janela. A fecho, cerro as cortinas. Pego o cadáver da mosca.
Sobre a minha mesa ela jaz. Lhe encaro, viro as costas. Desencavo água do rosto, a engulo. Pisco. Ela se mexe. Não me movo. Asas? Asas. Pego o estilete e furo o polegar. Afogo-a. Ela morre novamente. Impressão digital na parede. Ponto vermelho no branco.
Assim, ponto invisível, parede manchada e ponto morto.

[texto escrito em meados de 2006]
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quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Ontem

O calor escorre das vidraças. Há água condensada nas frontes. Mãos se perdem no ar, agitadas, em busca de vento. Óculos profundos escondem olhos chateados de tanta luz. Pessoas derretem no asfalto. Árvores dançam sonolentas, exibindo folhas que disputam ensandecidas um raio de sol. E o mundo é morno, morno... flamejante. Nuvens tímidas vêm se aproximando, suaves, umas das outras. Travam intimidade, se tocam, se misturam. Fazem festa e resolvem se desaguar em comemoração. Pingos caem enormes e machucam a tarde fervente. Água se espalha por toda parte. Abraçamos o banho violento e abençoado. Agora há vento, muito vento. E os cabelos compridos grudam no ar, suspensos, estáticos, belos. Muita água. E dedos infantis brincam na vidraça escorrida, fria, molhada, quente. Pessoas correm em agitação. (Chuva, chuva, olha a chuva!) E os pingos as perseguem num espetáculo engraçado e barulhento.
Sejamos inundados. E que depois o dia siga, inesperado, pois em vinte minutos o sol brilhará novamente.

domingo, 28 de outubro de 2007

Tornando o blog público?!

Confesso que é bem estranha essa resolução de tornar público o acesso ao blog. É o tipo de coisa que não faz muito o meu gênero... Mas tenho alguns motivos plausíveis para decidir dessa maneira. Assim, leitor, seja bem-vindo a estas páginas inúteis. =)

O “àlatombée...”, que existe desde 2006, sempre foi público. Entretanto, ao voltar à ativa em Abril de 2007, depois de seis meses de desatualização, teve o acesso restrito a uma única pessoa, ou seja, a mim.
O que aconteceu foi que, assim como o meu profile no Orkut, o blog se transformou numa espécie de gaveta onde se colocam as coisas para organizá-las e, assim, não esquecê-las pelo caminho. Eu tenho as minhas manias de listas e classificações, e isso se reflete numa página do Orkut que mais parece um baú onde se joga tudo aquilo com o que já se teve algum contato e se apreciou e, obviamente, se reflete aqui também: um blog que mais parece um arquivo velho de escritos, um registro antigo de textos variados, enfim, um grande caderno amarelado e rabiscado.
As razões para descortinar esses textos e permitir que outras pessoas dêem seus cliques por aqui são, principalmente, duas. A primeira se relaciona com uma conversa que tive recentemente com uma amiga. A conversa girou basicamente sobre a imagem muitas vezes distorcida que as pessoas têm umas das outras.
Esse é um ponto interessante nas relações humanas, pois nem sempre gostamos da imagem que o outro forma de nós. Porém, ao mesmo tempo, não somos o que achamos que somos, mas na verdade somos justamente essa construção que os outros fazem da gente.
O impasse surge quando sabemos, de alguma forma, que essa imagem está completamente errada e, assim, isso começa a nos incomodar. Geralmente, a solução encontrada é fazer algo para mudar essa imagem de acordo com o que achamos mais coerente, afinal, é a identidade do nosso “eu” em sociedade que está em jogo.
Você pode me perguntar: ok, mas e o que tudo isso tem a ver com um simples blog?
E eu respondo: quando escrevemos, querendo ou não, expomos não só a nossa visão de mundo, mas um pouco de nós mesmos nas nossas palavras. Quando se escreve, se desenha uma imagem que, na minha opinião, ajuda no conhecimento de um outro ser, de uma outra mente. Eu particularmente não tenho a mínima idéia da imagem que têm de mim (e prefiro continuar sem saber), mas gostaria que essa imagem não fosse, talvez, desprovida de oportunidades de lapidação, aprofundamento ou pluralidade. Às vezes, você não imagina que fulano goste de
x ou conheça y, mas ele gosta e conhece, e isso faz com que o seu conhecimento dele, precário ou não, vá se moldando de uma forma mais coerente. Ficou mais ou menos claro?
A outra razão também veio de uma outra conversa, essa um pouco mais antiga. Ela dizia respeito ao poder da criação e da arte como meios de modificação e atuação no mundo. Nos detivemos, mais especificamente, sobre o porquê de sempre engavetarmos tudo aquilo que fazemos. Por que sempre achamos que está ruim? Por que não mostrar para alguém? Por que enclausurar idéias, projetos, sonhos e possibilidades simplesmente por acreditar que não vale a pena? Todos esses questionamentos saíram de um trio onde: uma escreve peças de teatro, roteiros de filmes e até livros, o outro é músico e compõe e, bem, eu, que não faço nada com nada.
Enfim, a conversa era essa e ela me fez pensar nas possibilidades de ação e reflexão que as coisas que fazemos e engavetamos podem estar deixando de gerar. Eu sempre digo: escreva, desenhe, cante, dance, se expresse. Não esconda aquilo que faz, não esconda o seu poder de criação em meio a um mundo em que tudo se compra pronto. O que você faz pode trazer uma vírgula que seja de diferença no espaço do universo e, acredite, só esse pouquinho já vale a pena.
Dessa forma, estou abrindo as portas dessa bagunça aqui principalmente por esses dois motivos. Isso não quer dizer de forma alguma que eu tenho a intenção de mudar uma vírgula no universo com essas palavras (quem sou eu para fazer isso?), muito pelo contrário, acho esses textos uma grande perda de caracteres (e de tempo). E como sei que posso em breve me arrepender de tornar o blog público, ficarei com a chave a postos para, em meio a qualquer eventualidade, esconder tudo novamente. =)
Desde a semana passada estou arrumando a casa, varrendo, limpando, organizando tudo. Editei alguns trechos de posts, terminei outros vários que estavam inacabados, mas essa tarefa é um processo que demanda um tempo que nem sempre tenho disponível e, por isso, alguns poucos posts ficarão momentaneamente inacessíveis. Peço desculpas por isso.

Assim, novamente, seja-bem vindo! (seja lá quem você for).
Leia, rabisque seus comentários, critique, questione, corrija, importune, passeie à vontade. Movimente isso aqui nem que seja só com os seus olhos cansados percorrendo a tela. Está tudo aí: palavras soltas sobre música, filmes, livros, textos sobre nada, contos, textos nonsense, fotos, letras, vídeos... Divirta-se! (ou não...). =)

Até!

Post-insomnia insignificante

Nada como escrever de madrugada. 1h30 da manhã de mais um domingo lacunar. Um “putz-putz” no vizinho denuncia uma festança daquelas, e aí a gente, que está com o mundo entalado na garganta e queria tanto falar e falar tudo e todos, coloca um pouco de Legião para sair do fone como companhia e aumenta o volume ao máximo. Ok, concordo que “Clarisse” não é uma companhia ideal para uma madrugada, mas até que já foi há uns anos... Melhor colocar “Marcianos invadem a Terra” e depois repetir “Mariane”. É, bem melhor.
Às vezes são engraçadas as lutas que acabamos travando conosco. Sempre acho um momento curioso essas batalhas entre as diversas partes que tentam nos compor como um todo, nem sempre coerente ou coeso mas, enfim, ao menos uma tentativa de todo. Somos um todo fragmentado em pedaços, uns aqui, outros acolá. E é interessante também como esses pedaços deixam rastros, ou até mesmo se deslocam e migram para um outro ser, seja ele qual for. Deixamos pedaços nos outros e recebemos pedaços. São as marcas, as pegadas de algo ou alguém que passou por ali e significou alguma coisa em seu trajeto.
Bem, estou escrevendo a esmo... O “putz-putz” deu uma trégua e “Sagrado coração” é uma boa música instrumental... “High noon (do not forsake me)” também, só que ela sempre me faz acionar imagens medievais ou renascentistas na mente, bailes e guerras, aquele cerimonial todo de um passado mais do que remoto... E, falando em músicas instrumentais, hoje escutei Sigur Rós. Há tempos não escutava “Glósóli” ou “Gong”... Enfim.
“Acrilic on canvas” pra mim é totalmente surrealista. Adoro essa música. Totalmente Dalí. E um pouco melancólica também. “Eu juro que nunca quis deixar você tão triste”. É, melancólica.
Viagens, viagens musicais na madrugada... Sim, eu sei, ninguém merece. Vou mudar de tópico. Aliás, seria mais proveitoso se eu tentasse terminar uns posts atrasados... Ótima idéia, vou fazer isso.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

“In rainbows”

Sim, leitor, pois é: Radiohead.
As minhas audições do novo álbum do Radiohead, “In rainbows”, estão se desenrolando suavemente e muito bem, obrigada.
O meu período ainda não totalmente superado de desinformação em relação ao mundo, incluindo nessa cesta a cena musical como um todo, infelizmente me impediu de acompanhar a expectativa, especulações e as reações frente à chegada desse álbum.
Mas, mesmo assim, acho que isso não fará diferença frente às minhas sensações relacionadas à primeira audição, que deixaram um leve sabor de gostei-das-músicas-finais-e-das-iniciais-será-um-processo-à-la-“Idioteque”. Ok, deixe-me explicar, é simples.
Quando escutei “Idioteque” pela primeira vez, eu sinceramente não gostei. Entretanto, hoje ela é muitas vezes a primeira música da lista quando penso em escutar Radiohead na playlist do Windows Media Player. Desse modo, a primeira audição do início do “In rainbows” me deixou com esse sabor de não-gostei-mas-vou-gostar que, agora, já depois de algumas audições, está se confirmando. Já estou apreciando de verdade a primeira parte do álbum que, como um todo, tem se mostrado como uma ótima companhia.

Música a música:

15 step”: o álbum começa num tom de rave-africana-espanhola. Não sei, essa é a minha impressão. Ela tem o aspecto eletrônico, a alegria e essa batida quase de dança flamenca. É uma música pra se sair rodopiando. Há momentos em que certas características dela se acentuam mais e outras menos, e quando mistura tudo... Fica bom. O aspecto eletrônico não ficou muito marcado, o que a deixaria deslocada e estranha para ser a primeira do álbum.
trecho da letra: “you used to be alright / what happened?”.

Bodysnatchers”: uma espécie de continuação de “15 Step”, só que mais agitada. Essa sim dá pra sair dançando por aí. A voz do Thom Yorke está mais rock n’roll nessa música do que em qualquer outra. É a música mais pulsante do álbum todo. É só sair se balançando. Quando ela chega na metade... A parte instrumental destoante do resto... Muito bom! Vamos lá, gira e gira e gira...!
trecho da letra: “I have no idea what you are talking about / I'm trapped in this body and can't get out”.

Nude”: uma música sintética e lírica, feita de plástico derretido. A voz do Thom Yorke parece mais incisiva com o acompanhamento dos instrumentos fazendo um som ácido. Linda música, linda letra. O finalzinho dela me fez lembrar de “How to disappear completely”.
trecho da letra: “now that you've found it, it's gone / now that you feel it, you don't”.

Weird fishes / arpeggi”: essa aqui começa no estilo vamos-balançar-os-braços-e-mexer-os-pés. Ela continua nessa levada e parece que estamos num mar de ondas elétricas e suaves, com ecos e uma movimentação rítmica constante e quase ensurdecedora. Bom final, com o trecho em suspenso.
trecho da letra: “in the deepest ocean / the bottom of the sea / your eyes / they turn me”.

All I need”: primeira música que escutei. Ela tem um fundo sonoro um pouco duro no início, mas que é quebrado perfeitamente com uma voz doce e uma bela letra. O refrão parece a entrada num castelo, com um pouco de magia espalhada displicentemente. Ela mantém os barulhos sintéticos ora ou outra, o refrão é bonito e o final parece uma grande corrida rumo a um abraço.
trecho da letra: “I am all the days that you choose to ignore”.

Faust arp”: tenho uma grande simpatia por essa. É uma música harmônica, mas mesmo assim de desencontro, principalmente entre a voz e a melodia em si. Gosto da instrumentação toda. É suave, suave.
trecho da letra: “watch me fall / like dominos”.

Reckoner”: de início parece um pouco com um maquinário, mas depois entra uma guitarra bem comportada e a voz quebra a atmosfera. Parece uma música de ir-embora, de viagem, aquela que a gente escuta na estrada balançando de leve a cabeça. Quando a escuto consigo imaginar uma rodovia sem grandes dificuldades. Alguém dirigindo com uma bolsa no banco do passageiro. Um pouco de silêncio e a atenção na estrada. Gostei do final sem fim.
trecho da letra: “you are not to blame for / bittersweet distractor”.

House of cards”: quando a escutei pela primeira vez, pensei: “forte candidata à música preferida”. Adorei a levada, a letra. O tom de espaço amplo e arejado. A batida marcada e sem pretensão, o início estendido... Ótima música.
trecho da letra: “I don't wanna be your friend / I just wanna be your lover / no matter how it ends / no matter how it starts / care about your house of cards / and I'll deal mine”.

Jigsaw falling into place”: um viva aos instrumentos de corda e aos “hmmm”. A voz do Thom Yorke está um pouco seca e áspera, e isso deu uma combinação interessante com a parte instrumental, que é o forte dessa música. Mesmo assim, destaco a voz. E destaco também a melhor letra do álbum.
trecho da letra: “before you've had too much / come back and focus again”.

Videotape”: nesse exato momento, minha preferida. Tranqüila e simples. Música que pode servir de lullaby. Fecha muito bem o “In rainbows”, pois destoa do início marcado e mecânico. É uma música repetitiva e até mesmo um pouco sombria, para se fechar as cortinas, ajeitar o cobertor e descansar. O final dela é quase nonsense.
trecho da letra: “this is my way of saying goodbye / because I can't do it face to face / so I'm talking to you before it's too late”.

É isso.