sábado, 24 de janeiro de 2009

# 13


ainda existe.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

primeira vez


dancei tango,
plantei uma árvore,

doei sangue,
pulei de pára-quedas.

me vesti de noiva,
tomei banho de chuva,

escrevi um livro,
andei de bicicleta.

fotografei em preto e branco,
entrei num avião,

pintei um quadro,
fui trapezista.

vi a neve,
compus uma serenata,

montei acampamento,
beijei uma mulher.

comprei óculos escuros,
fui de montanha-russa,
e matei um peixe.

...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

de como gostaríamos de ser contrários

tive vontade de virar do avesso, mudar de estampa, ser parte colorida do branco, o branco do preto. tive vontade de fazer errado o que fiz certo, de gritar quando pediram silêncio, de rasgar os panos do recém-costurado. queria ter nascido idosa, amamentado minha mãe, posto meu pai pra dormir. queria ser canhota, adorar beterraba, andar de salto alto, ter cabelos curtos, pintados de vermelho, unha postiça, nenhuma piedade. queria ter perdido a noção, soltado as amarras, esquecido o maldito guarda-chuva, parado de chorar. queria ter podido realmente dizer que valeu a pena, que simplesmente não me cortei nos cacos, que finalmente perdi meu equilíbrio. tive vontade de ser o inverso do meu mesmo, o paradoxo em consenso, o caos no meio do nada.

enfim, tive vontades.


apenas.


quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

cena II



a amarga graça
da águia em carcaça
que o louco sol,

berrante,

frita.
adoça.
devora.




[por fernando penteado,
joão paulo de cária
e simone oliveira]

cena I



caos
colapsolápis
decoraquarela
coralgoviva
água-marinha
mardepanosvelados
véuemprantos

sonhos


desbotados




[por fernando penteado,
joão paulo de cária
e simone oliveira]

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

# 12


“dos que morrem de vontade”.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

# 11


espinhos.

Fragmentos # 09


no meio da floresta ela desamarrava os cadarços e grudava os dedos na terra coberta de folhas geladas. lá achava o que tinha perdido desde criança: a crença na liberdade da vida.


do arrepio na pele desenhou no teto toda a aspereza do seu medo e os soluços do seu pânico. puxou o travesseiro pra mais perto, fechou cuidadosamente os olhos,
se lembrou de todas as preces que sabia. nunca mais dormiu.


sobre a colcha de retalhos ela desfiava e rasgava a barra do vestido. tirou um pedaço da manga. desfez o laço de fita. bagunçou os cabelos e deixou cair no chão seus poucos sorrisos. lá ficou, calada, olhando seus restos “de noite velha”.


esqueceu seus sonhos numa caixa de marfim, fechou a alma de vez e foi colher trovões.



sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

um pouco do doce

acordou naquela manhã pontiaguda com vontades de um pedaço de lua. (menino-criança com desejo de luar sempre dá susto na gente). entrelacei minha mão nos dedos minúsculos e sussurei: “filho, dá medo estender o braço pra lonjura da lua...”.
“mas eu só quero sentir um pouco do doce, pai”.
“não, filho, a lua não pode”.
“mas, pai, ela tá tão redonda... olha só como ela fica olhando pra gente...”.
com pesar o pai fechou os olhos, respirou dentro do momento, deu alguns passos calados.

abriu a janela em suspiro.

e o menino que se contentasse com o sol.



sábado, 3 de janeiro de 2009

Chuva de peixes

Às vezes a gente fica olhando como se tudo fosse um grande picadeiro... Um porta-retrato, uma janela, uma sucessão de quadros e quadros carregando devagar o brilho dos olhos da gente. Então chega a quietude, aquele silêncio do não-explicado, a garganta pesada de pensamentos incertos, de dúvidas insolúveis no jamais.

Cortinas protegem a alma como se fosse cobertor de criança que dorme no sussurro do vento. Uma vontade imensa de pescar o céu com os olhos, debruçada na nuvem, com os olhos estalados e brancos. Vontade de sobreviver respirando no escondido, tecendo o tempo pra cobrir os tantos sonhos pra sempre sufocados.

E línguas me dizem que chove peixes. O sol evapora o mar ainda em tempos de cultivo e carrega pequenos ovos fertilizados para a ponta do céu. Ele escurece, e quando o mundo desaba em água-mãe uma maré de peixinhos récem-nascidos vem nadando no ar e cai no chão pra fecundar de escamas a terra. Deve ser bonito ver peixes chovendo. Um dia ainda apanho algumas gotas pra mim.