segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Bukowski, Miller, Hemingway, Woolf, Kafka, Clarice, Guimarães, Rubião, Tchékhov, Drummond...

Recentemente a leitura de um livro do Bukowski me fez perder a noção tempo-espaço. Conhecendo a dona desse blog como eu conheço, digamos que esse foi um grande feito. Assim, dedico esse post não só ao meu querido e sujo Henry Charles Bukowski (1920-1994), mas também a outros tantos escritores pelos quais cultivo uma enorme admiração.
Eu conheci Bukowski através da leitura de um livro chamado “O Azul do Filho Morto”, de Marcelo Mirisola. Segundo uma resenha que li num site qualquer, o estilo de Mirisola se assemelhava ao dos escritores norte-americanos da
beat generation, dentre eles Bukowski, Henry Miller, Burroughs, Kerouac e etc.
A literatura de Bukowski é uma literatura depravada, bêbada e degradante, além, claro, de ser fortemente autobiográfica. As personagens são sempre cinzas, miseráveis, com álcool e desilusão saindo pelos poros. A linguagem é fluida, muitas vezes cortante e com metáforas incrivelmente inusitadas. Bukowski escreve o que tem de escrever sem meias palavras, abusa de seu forte poder descritivo e pincela em suas narrativas traços de um humor quase triste, mas ainda assim humor. Enfim, uma literatura que cai aos pedaços, largada e bêbada, muito bêbada.

Dessa leva de escritores da geração beat norte-americana, ainda não me aventurei no famoso “On the Road” de Kerouac (1922-1969), mas já mergulhei um pouco em Henry Miller (1891-1980) e nem preciso dizer que adorei. Miller é menos alcoolizado que Bukowski, mas a depravação e a linguagem incisiva continuam as mesmas. O único livro dele que li foi “
Sexus”, parte de sua famosa trilogia “A Crucificação Encarnada” (também com os livros “Plexus” e “Nexus”), e nesse livro eu destaco os enormes trechos que discutem o papel do escritor, da arte e também o papel do próprio fazer literário. Essa trilogia de Miller parece ser, a meu ver, menos famosa do que o par “Trópico de Câncer” e “Trópico de Capricórnio”, porém desses eu não posso falar nada ainda, pois eles ainda estão na lista dos livros para serem lidos em breve.
Pensando em literatura norte-americana, não posso deixar de também assinalar minha simpatia por alguma coisa de Hemingway (1899-1961). Tive contato com alguns de seus contos há alguns anos. Muito bons.

Em relação à literatura inglesa, além de Poe (1809-1849), deixo em registro a minha adoração por Virginia Woolf (1882-1941). O único problema é que não cheguei a ler nenhuma de suas obras integralmente... Ok, deixe-me explicar. A culpa de tudo é do filme “The Hours” e também do livro “Mrs. Dalloway”, o qual li um terço e tive de abandonar a leitura em razão de outros compromissos (por “outros compromissos” entenda “leituras obrigatórias da faculdade”). É a partir do filme e dessa leitura parcial que surge a minha admiração pela Woolf. Assim, tanto a leitura integral de “Mrs. Dalloway” quanto de “Orlando” também estão na lista mencionada anteriormente.
Bem, Kafka. Ok, eu sei que não é todo mundo que gosta de Kafka (1883-1924) ou que ao menos o entende, mas, preciso dizer: amo Kafka. Já li quase toda sua obra. A poética kafkiniana é paralisante, é pesada, é de sufocar. O poder imenso e invencível que nos limita sem cessar, que
interrompe até o nosso pensamento. Ainda me lembro de “O Veredito”, ou então do aclamado “A Metamorfose”, “O Médico Rural”, os contos, as imagens, o maquinário... Maravilhoso.
Clarice... Clarice (1920-1977) é uma história um pouco mais antiga. Leio a obra dela com
um cuidado e um prazer sem comparação. Tenho o cuidado porque a leitura de suas obras é densa, dolorida. Quem nunca sentiu aquele sentimento amorfo com “A Hora da Estrela”? Ou ainda a densidade de algum dos contos que ela escreveu? O prazer, por sua vez, vem do trabalho que ela faz com a linguagem, aquele fio de palavras que vai se desprendendo como se fosse mágica. Clarice Lispector é leitura pra vida inteira, assim como Guimarães Rosa (1908-1967), outro gigante da literatura brasileira.
Guimarães é do tamanho do mundo. Costumo dizer que a leitura das obras escritas por ele deve ser feita suavemente e em doses homeopáticas. A ordem do universo está ali, e aquela linguagem é pra ser saboreada palavra a palavra. Ainda me lembro do final emocionante de “Miguilim”... Perfeito.
Eu sempre gostei de literatura fantástica. Também de literatura infantil e contos de fada. Melhor, qualquer literatura que envolva o mundo infantil ou qualquer gota de fantasia e imaginação livre que seja. Nem preciso dizer que Hoffmann e irmãos Grimm, além de Perrault, Lewis Carroll e o livro “Le Petit Prince” de Saint-Exupéry fizeram e fazem minha vida mais feliz.
Pode parecer um pouco estranho alguém sentir o mesmo apreço por um conto de fadas dos irmãos Grimm, por um trecho de alguma obra de Bukowski e por algum conto de Kafka ou Poe. Mas, sinceramente, não acho que seja algo tão estranho assim se se pensar na questão das diversas facetas da arte da literatura. Não há como se apegar somente aos clássicos, aos surrealistas ou aos modernos. Cada vertente tem a sua beleza e o seu propósito, e é isso que faz com que o estudo da literatura seja tão interessante.
Ainda no campo da literatura fantástica, gosto muito de Murilo Rubião (1916-1991). Ele consegue montar imagens sem precedentes, fora que os contos dele sempre deixam aquela sensação de indefinição e de que há algo lá que você não conseguiu captar, como se fosse uma mensagem codificada.
Navegando um pouco agora nas águas geladas do hemisfério norte, cheguemos à literatura russa. Essa literatura é aclamada por tanta gente que nem sei se há muito o que comentar. Só ressalto que, ao contrário de muitas pessoas, meu escritor russo favorito não é Dostoiévski (1821-1881), mas sim Tchékhov (1860-1904), que me fez estudar a língua, a história, a cultura e a arte russas por dois anos. E também fez com que eu me apaixonasse pela Rússia, claro.
Tchékhov não é uma leitura para apreensão imediata. A sua linguagem é simples, mas o sentido não é tão acessível. Mesmo assim, ele é ótimo. (Dostoiévski também é ótimo, só que sua grandiosidade reside noutro ponto, que é aquela questão do dialogismo e da polifonia estudada por Bakhtin e etc.).
Deixei o grande Drummond (1902-1987) para finalizar (pois esse post já está ficando um tanto quanto grande demais, não?). Posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que Drummond é o meu escritor maior. Gostaria de tê-lo conhecido ou ao menos o visto pessoalmente uma vez que fosse. Ele morreu dois anos depois de eu ter nascido. Mas um dia ainda vou ao Rio ver aquela estátua dele de perto.
Lembro de uma época em que tive de parar de ler Drummond porque de tão intensa aquela poesia toda estava me fazendo mal. Porém, logo desisti de querer que aquilo não me atingisse de alguma forma que eu não esperasse ou desejasse, pois poesia é isso mesmo. É aperto nos ossos, ar pesado, visão barrada, e tudo isso para que o mundo se mostre mais claro e amplo, para que certas coisas sejam entendidas ou desentendidas para sempre.
Enfim, leia Drummond. Clarice também, Kafka, Tchékhov, Guimarães, Woolf, tantos e tantos. Creio que o importante é só não ficar preso às trivialidades dos jornais, das revistas, dos outdoors e demais variantes, pois a leitura de um livro, qualquer que seja, sempre faz um bem enorme à saúde da mente, da alma.
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