sábado, 3 de novembro de 2007

Pontos

Ponto negro no espaço branco. Mosca sobre tinta. Parede. Teto. Chão. Porta: fechada.
Eu balanço a cadeira, ela me balança. A mosca se assusta, voa. Me encara, vira as costas. Caminho com a unha do polegar em riste. A esmago, mancho a parede. Ponto amarelo sobre o fundo branco.
O computador piscando. Os olhos doendo. O mouse e a mão se apoiando ternamente. Números se pendurando na lâmpada e querendo pular da janela. A fecho, cerro as cortinas. Pego o cadáver da mosca.
Sobre a minha mesa ela jaz. Lhe encaro, viro as costas. Desencavo água do rosto, a engulo. Pisco. Ela se mexe. Não me movo. Asas? Asas. Pego o estilete e furo o polegar. Afogo-a. Ela morre novamente. Impressão digital na parede. Ponto vermelho no branco.
Assim, ponto invisível, parede manchada e ponto morto.

[texto escrito em meados de 2006]
_

Nenhum comentário: