sábado, 29 de novembro de 2008

pelo telefone



“Filha, tudo o que você deve fazer é correr atrás do seu sonho”.

[silêncio]

(“Mas meu sonho é mudar o mundo inteiro, mãe...”).


quinta-feira, 27 de novembro de 2008

pisar na terra


e eu, que só queria andar descalça e com chapéu de palha, que só queria água de coco e brisa na nuca, eu, que só queria um cantinho dentro no sossego..., fui ficando presa aqui.

sábado, 22 de novembro de 2008

# 07



“pourtant si sensible au charme discret
des petites choses de la vie”.

# 06


“not impossible to touch”.

# 05


“to be found”.

# 04


“dizer que não falei das flores”.

# 03


“in the sky with diamonds”.

# 02


“da palavra dita de tão longe”.

# 01



“sail me to the moon”.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sobre a autoridade

É interessante observar às vezes como se configura o nascimento e o desenvolvimento de certas coisas como, por exemplo, grupos organizados em prol de atividades e discussões que se pretendem como pontos de partida para a mudança de realidades indesejadas.
É evidente que o mundo, sendo mediado pela palavra, deve ser discutido por todos e por longo tempo, pois é apenas através da troca de idéias e da pluralidade de discursos que poderemos, cada vez mais e melhor, compreender este mundo. Além disso, ações que visem a construção de uma coletividade sem tantas desigualdades, com mais respeito, com circulação livre de cultura e de posicionamentos diversos trazem à imaginação do mais desconfiado e desesperançado (ex) utopista um vislumbre de que talvez finalmente algo aconteça.
Só que quem é (muito) desconfiado sempre se mantém na retaguarda, até que lhe dêem abertura suficiente para que ele se deixe levar e, com o tempo, adquira confiança em algo. Dessa forma, grupos organizados sob o pressuposto de que todos têm voz e participação igualitária só se tornam um conjunto passível de crença de um desconfiado / (ex) utopista quando todos os que dele fazem parte realmente tiverem voz, participação, autonomia e opiniões ouvidas e levadas em consideração de igual maneira e por todos.
Sabemos que um grupo cujo funcionamento pretenda se configurar dessa forma está fadado a correr riscos de fracasso. Atualmente, com a guerra quase sanguinária em busca de uma posição de destaque nos diversos setores da vida, com a valorização do aspecto econômico acima do pessoal (ou uso do pessoal para sucesso do econômico, prática essa já corriqueira), enfim, com toda uma estrutura social que posiciona o “eu” num nível sempre acima e acima, o que esperar de um grupo inserido numa realidade como essa e que mesmo assim posiciona o coletivo numa perspectiva prioritária? As respostas são muitas. Podemos tentar desvendar algumas delas.
Primeiramente, é óbvio que nesse coletivo vozes serão engolidas por outras vozes, e as que se fizerem ouvidas começarão a exercer a faculdade da manipulação, angariando para si a idéia de portadoras da verdade. Ao conseguir construir essa imagem, essa ou essas vozes que “falaram mais alto” tomam posse do que podemos chamar de liderança, de autoridade.
A autoridade, ao contrário do que muitos acham, não é algo ruim. Figuras que apontem um direcionamento organizacional, que representem ideais de comportamento e/ou que se coloquem como exemplos a serem seguidos, são essenciais para que haja parâmetros, caminhos, direcionamentos viáveis para onde se ir. Entretanto, essas pessoas não se auto-proclamam figuras de autoridade ou conquistam esta através de jogos de poder. Geralmente, a autoridade lhes é conferida pelos outros, devido às suas capacidades de sustentação de verdades baseadas justamente no coletivo, ou seja, aqueles que conquistam involuntariamente para si a autoridade são simplesmente aqueles que sabem ordenar toda a diversidade de vozes de um coletivo num consenso que esteja de acordo com a grande maioria.
A autoridade é, ainda, baseada primeiramente na liberdade. Aquele que recebeu a autoridade do coletivo saberá fazer uso dela a partir do momento em que souber ouvir e deixar que cada um aja de acordo consigo mesmo. A liberdade de ação e pensamento que a autoridade permite se baseia na idéia do conselho. Alguém que detenha a autoridade não pode jamais tentar, com ela, impor sua opinião ou manipular as partes do coletivo de acordo com sua causa individual, mas sim deve apenas aconselhar, deixando com que cada um escolha se deve ou não se submeter à verdade coletiva proferida por esse alguém a quem foi concedida a autoridade. As partes do coletivo exercem, assim, a sua liberdade de escolha.
Uma autoridade sensata e que respeita e considera igualitariamente todos os sujeitos de um grupo que tem objetivos comuns, ou seja, uma verdadeira autoridade, não terá dificuldades para se fazer ouvir e, por fim, receber a seu favor as livres escolhas das partes de um coletivo. Decisões impostas, pareceres interesseiros e abuso de poder nunca conseguirão esculpir uma figura de autoridade na qual confiamos, mas sim conseguirá esculpir uma na qual não depositamos o nosso respeito ou que apenas obedecemos por temê-la (a persuasão pela opressão é um dos exemplos mais requintados de violência).


[texto em construção, 21/11]



(pra não esquecer de guardar lembranças)

Medo do que acaba. Ânsia de multiplicar os segundos, distender ao máximo qualquer vivência, apertar tantos abraços, olhar mais fundo nos olhos simplesmente porque está acabando, fugindo dos dedos.


Talvez a melhor época, as mais inocentes risadas, o cansaço e a alegria mais sinceras, as lágrimas mais redondas porque geralmente compartilhadas. Talvez amizades para a vida inteira. Com certeza o baú mais leve e mais pesado que a gente vai carregar pelas ruas da velhice, aquele que trará a saudade doce e ácida do passado largado lá na juventude, lá, lá longe, perdida no meio do nosso cheiro de naftalina e poeira do tempo.


Estou com medo do fim. De ter que sair lá fora, olhar o sol e ver o que há de vir. O que há de vir, afinal? (Medo).


Estou molhando as lembranças, cultivando sua terra, acariciando seus frutos com carinho e arranjando tudo cuidadosamente. Que elas sejam o meu melhor e que eu também consiga guardar algumas pessoas amarradas aqui dentro, só pra nunca esquecer.



Que acabe.

Que este ano acabe. Que o tempo do calendário se desfaleça nos meus braços feito criança adormecida pra embalar com ternura. Que os dias de peso e tédio se desfaçam, que tudo vire cinzas, que só fique alguns amarelados cacos.
Quero que acabe. Que o vento congele e esqueça lembranças, que só reste as nuances azuis do que foi bem cultivado por ser frágil. Que os meses sejam dobrados e amarrados, que as semanas se percam. Que vá embora, seja tudo levado pelo odor circular do tempo.
Que este ano acabe. Que carregue consigo o que a maré cuspiu, devolveu, trouxe de volta. Que seja trancado, perdido, anulado. Que as páginas sejam arrancadas e reescritas, que as rachaduras se preencham com esquecimento, que durma profundamente e só acorde ao som de muitos fogos de artifício.


domingo, 9 de novembro de 2008

farewell

vento no rosto que nunca acaba. sopros, sopros, sopros. your hands used to be beside me. suspirando o vento, vento a suspirar suspirado. adeus pelo vidro. não, não feche a janela. never close the doors. há uma pomba perto do pára-brisa. brisas, asas. abertas. talvez chova. guardarei as gotas. não, não chore. i'll be back, i'll be back soon (...).



[durante a música farewell, farewell, gravenhurst]

terça-feira, 4 de novembro de 2008

idéias, pedaços

(ouesquizofrenia”)

andei querendo escrever sobre a locked-in syndrome em metáfora, dizendo sobre a imaginação e os sonhos ou sobre as prisões onde nos escondemos, lá dentro de nós. hoje de manhã cogitei o assunto das pessoas despedaçadas, estranhas, fisicamente tortas e unicamente belas. não sei, a imagem de despedidas-despedaçadas também me surgiu com freqüência dias atrás... aquela idéia de deixarmos pedaços nossos no outro toda vez que dizemos goodbye. deu vontade de inventar história a partir de um “hello, stranger” (alice, closer), e a imagem gelada e doce de olhos de abacaxi com hortelã me acompanha há longas semanas. pensei em moinhos de vento, numa saia rodada. saia floral estampada, bem brega e inocente. o rascunho de ontem se intitulava “dos sonhos que se configuram tristes e inertes” (clarisse, legião) e ia ter como corpo apenas uma imagem de um dente-de-leão. ia doer só um pouco. fico ainda horas tentando lembrar aquele trecho de “wish you were here” (pink floyd). seria “we are just two losts souls swimming in a fish bowl”? não sei, não lembro. não me encontro com essa música há tempos. talvez algum dia eu me ache nas calçadas, quem sabe. cogitei o “le petit prince”, mas depois não soube mais o que fazer com ele, nem porque cogitei, nem o porquê de nada. à tarde-quase-noite quis em desejo-impossível escrever sobre pirandello e pessoa, colocaria nietzsche, mencionaria machado, entraria no tópico da vida como um teatro e da palavra como a representação máxima do nosso silêncio. aqui eu lembro de herberto helder, do conto “duas pessoas” e do meu trabalho sobre a solidão na palavra (gostei dele). hoje foi bom porque também lembrei da minha idéia antiga sobre uma poética do silêncio em tchékhov... é/era uma boa idéia. e fico aqui nesse papo furado de pseudo-intelectual até que vem à minha mente aquele sorvete vermelho de morango que é meu cúmplice tão amigo. ele bem que poderia ser líquido. meus olhos doem. lamento esse baú de imagens soltas e minha inabilidade pra moldar o mundo em letras. eu podia ter escrito algumas coisinhas com elas, rabiscado pequenos trechos de palavras e vento. mas a mente cansada não se deixa, o corpo pesado pede descanso, meus sentimentos pedem silêncio e a mão inábil e lenta desaba. ainda bem que acho que ainda penso. ainda bem que às vezes ainda choro.