quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Ontem

O calor escorre das vidraças. Há água condensada nas frontes. Mãos se perdem no ar, agitadas, em busca de vento. Óculos profundos escondem olhos chateados de tanta luz. Pessoas derretem no asfalto. Árvores dançam sonolentas, exibindo folhas que disputam ensandecidas um raio de sol. E o mundo é morno, morno... flamejante. Nuvens tímidas vêm se aproximando, suaves, umas das outras. Travam intimidade, se tocam, se misturam. Fazem festa e resolvem se desaguar em comemoração. Pingos caem enormes e machucam a tarde fervente. Água se espalha por toda parte. Abraçamos o banho violento e abençoado. Agora há vento, muito vento. E os cabelos compridos grudam no ar, suspensos, estáticos, belos. Muita água. E dedos infantis brincam na vidraça escorrida, fria, molhada, quente. Pessoas correm em agitação. (Chuva, chuva, olha a chuva!) E os pingos as perseguem num espetáculo engraçado e barulhento.
Sejamos inundados. E que depois o dia siga, inesperado, pois em vinte minutos o sol brilhará novamente.

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