sábado, 29 de agosto de 2009

La semaine la plus...


Estive pensando em escrever sobre cotidianeidades desde ontem à noite, após perceber que essa semana que passou não foi das mais comuns. Aliás, muito pelo contrário: foi aquela semana onde acontecem as coisas mais estranhas, aquelas de quase-nunca.

De início, pensei em manter a coerência de datas e nomes, organizar tudo em texto coeso pra não esquecer, porém, a memória não é feita de fios em ordem, e sim dos nós (e de nós), assim...

Acho que aprendi a não acreditar muito no que as pessoas dizem enquanto suas resoluções definitivas. Um “não”, ao que parece, pode se transformar num “absurdo” (ótima definição, aliás). Enfim..., saudades doces pra ficar dessa etapa algodoada da vida.

Tive uma aula ótima sobre “nós que estamos sempre sendo e que nunca somos”. Logo depois dela aconteceu uma coisa triste com uma moça, e daí eu fui almoçar correndo pra poder pensar direito nas coisas e, ao mesmo tempo, fugir do que podia descobrir pensando demais.

Um amigo escreveu uma música e irá me mostrar. Já está com a melodia e é relacionada à vida da mãe dele e àquelas realidades de existências paradas... Vou gostar que ele me mostre.

No início da semana me contaram sobre um moço de Atibaia que gostava muito de pés. No final da semana, à noite, indo comprar um pedaço de bolo, um homem simpático e sorridente me parou dentro do prédio da faculdade e:
– moça, oi, será que você pode me ajudar? é que eu adoro pés, sabe, e eu queria fotografar os seus, será que eu posso? (sorriso)
(espanto/risos) – é... como assim?
– não, por favor, não quero te atrapalhar, é só você sentar ali e eu tiro a foto, a máquina tá aqui e...
(mais espanto) – mas... é... eu tenho que tirar o sapato?
– ah, sim. mas é só os pés, não vou tirar foto do seu rosto. pode ser? você só dobra eles assim um sobre o outro e daí eu tiro a foto, é rapidinho.
(querendo fugir) – ...
– se não der, é só dizer, sem problemas, eu não quero te atrapalhar, é só uma foto... (sorriso)
(muito sem graça) – é..., então, acho melhor... não..., né...?
(às gargalhadas) – ah! você é tímida, hahahaha!
(desço as escadas incrédula/rindo)
Pois é. Sem comentários.

Essa semana também, no trabalho:
– próximo!
– oi.
– olá, boa noite. tudo bem?
– tudo!
O homem – já o tinha atendido antes – me passa os livros e eu começo a fazer os empréstimos. Percebo que ele deve estar olhando para o meu rosto. Eu tinha acabado de rir de alguma coisa antes de atendê-lo, assim, achei que eu devia estar com uma expressão engraçada, por isso não prestei muita atenção nisso – é até normal – e me concentrei no que estava fazendo. E então, ele:
– é... alguém já te desenhou?
(olhei pra ele com um silencioso “ãhn?”) – é...
– não..., é que eu gosto de desenhar... (gesto imitando o ato de desenhar) e você tem um rosto tão... expressivo..., não é? umas linhas, assim...
(reticente e achando graça) – você... quer me desenhar, é isso?
– não... é que... sabe aquela coisa que não dá pra explicar...? não sei... é... bonito.
(morrendo de vergonha) – ah... é, muito obrigada. hum, seus livros, aqui.
(ele pega os livros, se despede educadamente e sorrindo, retribuo educadamente e sorrio).
Novamente: pois é. Sem comentários.

E, falando sobre bolos, não dá pra comer bolo com certas pessoas, não é mesmo? É uma guerra de garfos vazios e metáforas afiadas. Eu, sinceramente, não entendo. Já desisti de entender. Gato e rato tentando se morder nas palavras, brincando pelos farelos das letras. “O mangi questa minestra o salti dalla finestra”. Okay... Mais je reste encore à rien comprendre.

Essa semana também me disseram: “a sua relação com a literatura é muito sofrida”. As pessoas não deveriam me dizer coisas assim, pois, por mais que no fundo eu já soubesse disso, na realidade eu ainda não sabia porque nunca tinham me dito. Desde então, toda vez que abro um livro, fico pensando no quanto vou sofrer para terminar de lê-lo... (Medo gelado de Proust).

Nesse mesmo dia, recebi uma notícia não muito agradável e à qual não estava realmente esperando. Como já tinha pendências a refletir, tive uma sobrecarga de coisas para pensar e, com isso, fui ler García Márquez (conto “Eva está dentro de seu gato”) para descansar. Essa sim foi uma leitura sôfrega, feita de pausas. Senti uma tristeza tão densa, um sentimento tão cheio de raízes..., me percebi profundamente viva.

Saímos em família no domingo. Acho que não fazíamos isso há uns bons... anos?

E o que fazer com aqueles que a gente só quer proteger da chuva e do vento, mas que só se escondem no eterno ir embora? Talvez seja só a possibilidade impossível das pontes e de tudo o que trinca sem motivo aparente.

O “absurdo” é de uma delicadeza surpreendente. Tão agradável... E tudo bem.

Há um bom tempo, me disseram em tom de brincadeira que tinham me escrito um poema.
Na sexta-feira, encontrei com quem tinha me dito isso. Ficamos conversando aquelas conversas de brisa e:
– toda vez que eu te vejo eu lembro do poema que escrevi sobre você.
(espanto) – poema? que poema?
– eu já te disse isso. acho que você não lembra porque falei em tom de brincadeira e você não acreditou.
(lembrando) – nossa... é mesmo... mas, é verdade?
– é.
(ficando sem graça) – cadê...? eu quero ler...
– ah, tá lá em casa. mas eu te mando.
(muito sem graça) – é... ah, obrigada. (abraço). sério, obrigada mesmo. eu não esperava. tou morrendo de vergonha agora...
– ah, quê isso...
(morrendo de vergonha) e, depois dessa, eu vou ter que entrar, não vou conseguir ficar aqui. tchau... até mais. boa aula.
(rindo) - ah..., eu te entendo. té mais, brigado.

Recebi o poema hoje à noite, por e-mail. É lindo. Das vezes que o li e reli deu vontade de olhar para o lado e procurar a pessoa a quem se dirige o poema... Pois é, essas coisas acabam comigo.

Essa semana ainda, mais do que nunca, notei como as pessoas não se permitem sinceramente ao outro. Fica todo mundo escondido dentro da sua concha, pronto para julgar aqueles que decidiram deixar um pouco a proteção de suas cascas e, portanto, podem cometer os “deslizes” dos desmascarados. Na minha opinião, disputa de poder geradora de chateações desnecessárias.

Descobri, também, que odeio profundamente ser ignorada. Indiferença marca falta de consideração e, com ela, percebi que não consigo lidar muito bem... Enfim, coisas dessa semana la plus.

(E ficou pendente aquela minha conversa sobre o mar naquele livro da Clarice).



quarta-feira, 5 de agosto de 2009

(“it's like you’re standing on my chest”)



[a d., m., y., fp., g., fl. e o.]


do meu entusiasmo em navalhas te esculpi poente | corpo avesso nas minhas unhas | sopro enforcado dos sentidos | tanto pesar que foi-se no cheiro a curva | e teus olhos meus verde escarlate, fica | amarra essa agonia lavada de calor intenso em pontes de azul madeira | jura nos meus cabelos ilhas de choro e vento | e teu perdão, e teu consolo no meu ar perdendo, calma | esquece.-me embrulha teus ombros.



sábado, 1 de agosto de 2009

# 19






[lire le Chapitre XXI, Le Petit Prince]

[ler o Capítulo XXI, O Pequeno Príncipe]