segunda-feira, 1 de junho de 2009

voz, porta, corredor.



as letras caíam dos olhos. pesadas, se quebravam no chão. mãos agoniadas tentavam segurar nos dedos as quase-palavras, tudo doendo. escorregava. tudo caía. espectros, fiapos, mar de letras e lamentos. de então, resolveu pescar. pegou lápis com pontaria afiada nos olhos secos. alçou o aperto do desejo e, lá-lento, juntou vontade do dizer. puxou. puxou e puxou. puxou com graça e feridas o punhadinho de letras, de ranhuras e defeitos. aos pés, foi caminhento ensaiando o andar na dita-cuja, com jeito, pra ela não fugir. andou, andou. suores e empenhos. mas machucadas, todas machucadas, não indicavam caminho na voz. letras-trecho de palavra perdida pra nunca calada. tardou mais que já não era hora de abandonar silêncios. guardou no susto o desalento. desafogou chaves e abriu uma porta. labirinto adentro.