sábado, 3 de novembro de 2007

“Os Teclados”

Acabei de ler um livro simplesmente maravilhoso. Há tempos a leitura não despertava em mim sentimentos tão parecidos com aqueles que existiam antes de ela ter se tornado um instrumento de trabalho diário. São eles: prazer, compreensão, alívio e, ao mesmo tempo, um pouco de atordoamento. Sobretudo, uma compreensão calada, como se cada palavra, cada descrição estática, cada associação absurda caísse como uma gota de entendimento sobre o seu mundo.
O livro lido é “Os Teclados”, escrito em 1999 pela escritora portuguesa Teolinda Gersão
. Não quero aqui fazer o frio trabalho dos críticos literários de desbravar o texto com um olhar clínico e analítico, quero simplesmente manifestar o êxtase de uma leitora que, novamente, se encontra em seu silêncio com um livro.
Não estou querendo dizer com isso, também, que os livros que li recentemente não me trouxeram certa apreciação estética. Claro que trouxeram. A leitura de “Noites brancas” de Dostoiévski, ou ainda de “Luuanda” de Luandino Vieira ou de “Bom dia camaradas” de Ondjaki foram ótimas, com destaque para a beleza estrutural e irônica do primeiro e para o trabalho com a linguagem nos dois últimos. Porém, foi justamente esse olhar profissional sobre a obra que eu evitei no desenrolar do processo de leitura de “Os Teclados”.
Esse livro é líquido, melodioso, trágico. É poético e lindo. As descrições, as mesclas de realidades, as discussões sobre o caos e o cosmos, sobre o valor de troca no mundo, música, números, letras e literatura, circo, vida em repressão e liberdade, sereias e trapezistas, o mundo em sua ordem e desordem e o nosso papel nele, tudo está lá, latente, inclusive nossa solidão frente às nossas escolhas e renúncias, os sons da natureza, o diálogo entre os teclados... Enfim, um livro magnífico, que vale muito a leitura num sábado à noite qualquer. =)

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