sábado, 30 de junho de 2007

Garfield!

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sexta-feira, 29 de junho de 2007

Will we ever be open?

“a man lies in his bed in a room with no door
he waits, hoping for a presence, something, anything, to enter
after spending half his life searching,
he still felt as blank as the ceiling at which he's staring
he's alive, but feels absolutely nothing,
so, is he?
when he was six he believed that the moon overhead followed him
by nine he had deciphered the illusion, trading magic for fact
no tradebacks...
so this is what it's like to be an adult
if he only knew now what he knew then...”


(trecho de I'm open, Pearl Jam)


Sempre que leio a letra dessa música fico com essa espécie de sensação de espera, de suspensão frente à vida, como se os processos pelos quais passamos ao atravessar as suas diferentes fases nos deixassem tão perdidos que acabamos, no final, buscando tantos significados para as coisas... que nem sabemos mais se essa busca é tão necessária assim para podermos viver.
O homem nesse quarto é alguém que passou grande parte de seu tempo tentando achar uma explicação para a vida adulta, surgida a partir da troca constante da mágica da infância pelos fatos estampados nos livros de ciência, nos
outdoors, nos extratos bancários, nos jornais, nas pesquisas, nas contas, enfim, em todos os pedaços de papel donde a vida adulta salta aos nossos olhos.
Ele se sente como um desses pedaços de papel, que por mais cheios de informações e de dados que estejam, estão na realidade completamente vazios. E é um vazio de fantasia, de imaginação, de doces, pirulitos, balões e brigadeiros. Vazio da mágica de se ter sido criança.
Eu não sei porque a vida adulta tem de ser tão desconectada dessa mágica da infância, pois, talvez, o que realmente nos faça falta para sermos mais abertos em relação às diversas manifestações de beleza do mundo seja justamente um pouco mais de inocência e de algodão-doce e um pouco menos de estatísticas e de senhas.
Será que algum dia seremos capazes de nos abrir e, assim, esperar por qualquer coisa que nos complete e coloque um pouco de cor no papel vazio que nos transformamos ao crescer?

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Separados pelo tempo

É interessante quando se percebe a enorme distância que surge entre pessoas que um dia foram próximas. De repente, por seguirem caminhos diversos, por começarem a freqüentar lugares diferentes, viver em ambientes distintos, enfim, por terem curvado para direções opostas em determinado momento, se vêem hoje como completas estranhas entre si, simplesmente seres estranhos que se conheceram um dia.
Parece paradoxal o encontro entre a idéia do estranho e a do conhecimento, mas se se pensar que a cada dia somos diferentes por mudarmos de acordo com o nosso convívio diário com outras pessoas e com a realidade em si, por estarmos em constante absorção do mundo e, assim, em desenvolvimento, temos que pessoas que deixaram de manter um contato mais próximo, ao se reverem já com o tempo entre elas e somente com o passado interligando-as, não conseguem fazer com que os laços existentes no passado se reestabeleçam de forma concreta e imediata no agora.
A passagem do tempo, além da individualidade e do egoísmo naturais do ser humano, separa as pessoas de modo tão avassalador que a maioria dos laços do passado, se na época não eram bem atados, se desfaleçam completamente a partir de um rever-se no hoje. Os reencontros com pessoas do passado só são válidos se os envolvidos têm certeza da solidez de sua antiga relação, solidez essa que possibilitará entre os dois uma reaproximação lenta e gradual.
Entretanto, o complicado desse retorno é que o processo de conhecimento, de construção do entrosamento entre os amigos do passado, tem de se dar novamente desde o início, afinal, o afastamento e o tempo geraram pessoas diferentes, com toda uma experiência angariada com o tempo que precisa ser partilhada para que uma sintonia se estabeleça e “se fale a mesma língua”.
Por outro lado, temos uma incrível facilidade para ter relações de amizade temporárias. A idéia dos amigos por conveniência é algo tão comum que fica difícil de se estabelecer os limites entre essas relações e as verdadeiras ou, melhor, acabou se tornando complicado se ter relações verdadeiras a partir do cotidiano atribulado no qual todos estamos inseridos. É engraçado notar, porém, que essas relações mais profundas só podem existir justamente a partir dessas amizades
fast food. Assim, por mais que às vezes as amizades por conveniência sejam de certo modo vazias de uma significação maior, aguarde e passe a amar muito tudo isso, pois só daí se poderá construir algo mais resistente ao tempo.

sábado, 23 de junho de 2007

(2)7 coisas (in)úteis para se fazer nas férias: um manual

1) faça descobertas culinárias como, por exemplo:
- descobrir que bolacha de maisena com brigadeiro é muito bom.
- que dá pra se comer leite condensado com praticamente tudo o que está na despensa.
- molho shoyo é um ótimo companheiro nas horas daquele macarrão água-e-sal-estou-com-preguiça-de-fazer-um-molho-decente.
- aquela pipoca na manteiga pode (e deve) substituir alguma refeição diária, ainda mais se o sofá está preparado para aquela sessão 3DVDs da tarde.
- pastel com muito catchup é o almoço de domingo perfeito.

2) pratique as suas melhores habilidades esportivas como, por exemplo:

- arremesso de roupa suja no cesto de roupas.
- salto da cama para a cadeira, poltrona ou sofá mais próximo.
- exercício para fortalecimento dos dedos, esse sendo executado regularmente no controle remoto e no mouse.
- origami.
- levantamento de garfo, colher e copo para o suprimento da necessidade básica de se alimentar a cada 30min.

3) exercite a mente:
- saia da sua velha calça de moletom ou do seu pijama de bolinhas, vista algo mais apresentável e vá até a banca de jornal mais próxima e assim se abasteça de caça-palavras, sudoku, palavras-cruzadas, jogos-dos-sete-erros (o melhor!) e etc.
- leia aqueles livros intelectualizados que estão parados na sua estante desde a última feira-liquidação do sebo como, por exemplo, aquele romance conto de fadas, aquele livro de piadas, os quadrinhos (!), os livros infantis (!!) e etc.
- compre um jogo da memória daqueles bem grandes.
- compre também no mesmo local do jogo da memória um quebra-cabeça de umas quinhentas peças, só pra relaxar nas horas de estresse brutal.
- atualize sua habilidade no mundo dos joguinhos, ocupando-se com o jogo da velha, jogo dos pontinhos, forca, paciência, tetris, pacman, batalha naval, pinball, e etc.


4) se enriqueça culturalmente:
- assista à maioria dos desenhos animados da TV, principalmente se você é um saudosista dos tempos de Pica-Pau, Thunder Cats, Caverna do Dragão e Tom & Jerry e, além disso, também é um moderninho que vai de South Park, Bob Esponja e Luluzinha.
- faça da TV Cultura o seu melhor canal (Castelo Rá-Tim-Bum! Quem lembra? Quem? Levante os braços: \o/)
- entre em discussões filosóficas nas salas de bate-papo da Internet. Você nunca mais será o mesmo depois de tantas conversas profundas (essa aqui também vale como experimento antropológico).
- abra uma janela de contato com o mundo: o site www.youtube.com deve ser a sua página inicial, sempre, assim como também são bem-vindas visitas regulares ao Google e à Wikipedia.

5) acerte o seu relógio biológico:
- se as dez horas de sono habituais não estão te livrando do cansaço-preguiça, durma mais um pouco, pois seu corpo precisa de muito descanso e, assim, aproveite e seja solidário com a carência alheia, já que a sua cama sempre precisou de companhia durante o dia mesmo.
- coma naquelas horas que você sentir necessidade e, principalmente, não ignore o seu estômago que às vezes precisa daquele lanchinho básico na frente da geladeira ou na cama às 4 da manhã de uma terça-feira ou às 0h30 de uma sexta.

6) cultive as amizades:
- nada melhor do que manter contatos nesse período natural de distância, assim, use o msn, o e-mail, orkut, bilhetes, telepatia, correio-elegante, barulhos de tambores, telefone, sinais de fumaça, cartas, código morse, pombos-correio e etc.

7) gaste seu tempo com coisas (in)úteis:
- faça manuais como este.
- complete profiles.
- escreva listas: “101 coisas para se fazer em 1001 dias”, “pessoas para as quais devo alguma coisa” (essa é grande!), “filmes para assistir”, “livros para ler”, “pessoas para matar só um pouquinho e regularmente”, “lugares para ir”, “curiosidades para suprir”, “decepções a se evitar”, “livros a se devolver”, etc.
- organize o seu guarda-roupa por estações do ano e por cores.
- arrume a sua estante de livros por ordem alfabética, só pra você não achar nada depois e bagunçá-la de novo em breve.


**Enfim, desligue-se do mundo!**



Sobre “Eternal Sunshine of the Spotless Mind”

* Montauk

“Why do I fall in love with every woman I see who shows me the least bit of attention?”

Com essa frase Joel abre as portas do filme “Eternal Sunshine of the Spotless Mind” e descortina também a janela pela qual se jogam todos os solitários do mundo: a de inconscientemente se apegar a todo ser que lhe doa o mínimo de atenção e carinho.
O encontro de Joel e Clementine, tanto ao acaso, na praia, quanto no trem em que se encontram após seus esquecimentos, é a ligação de dois desencontrados e opostos que não se completam nem anulam, mas apenas existem e, principalmente, tentam coexistir dentro da gota de beleza que é o sentimento que acabou por os unir, seja ele o amor ou, em essência, a própria solidão em si.
Qualquer união entre dois solitários, seja ela por amor ou solidão, é frágil como uma brisa que desfalece ao toque de algo sólido. Para os desencontrados, o desmoronamento do único reduto de beleza e salvação por eles mesmos criado gera a abertura de um abismo. O sólido que destrói a brisa (no caso de Joel e Clementine foi apenas uma frase grosseira dita num momento de ciúme e ódio) traz a dor e, através dela, se deseja com todas as forças o total esquecimento daquele ser tão maravilhoso e maldito que teve a oportunidade de mudar sua vida sem graça nas mãos e a esmagou, e a esmaga principalmente agora, com sua ausência.
Não creio que a fragilidade de uma união entre solitários seja maior ou menor do que a de uma união entre não-solitários (supondo que pessoas não-solitárias existam). Toda e qualquer relação (nesse caso amorosa) entre seres humanos é frágil. O problema da relação entre solitários é que essa fragilidade toma proporções maiores e mais profundas, pois aquela relação é para eles a única e última chance para se ter o fim da inquietude de se ser só. É importante. É tudo.
Assim, a união que poderia mudar uma realidade indesejada, ao desmoronar e abrir o abismo, se transforma em pó. Num processo corrosivo de destruição, as lembranças vão sendo desintegradas e o outro vai sendo apagado violentamente por aquele que sofre a ausência, ausência essa que agora é mais intensa por ser na verdade um reencontro com a solidão.
Mas, e como se apagam os sentimentos?
As memórias se apagam. No filme pode-se apagar completamente todas as lembranças. Mas como se ver livre dos sentimentos que fazem com que, por exemplo, Joel, inesperadamente e sem saber a razão, saia correndo de sua plataforma e entre num trem para Montauk? É possível, mesmo se tendo excluído completamente o outro de si, não se achar de repente dentro de um trem para Montauk sem se saber o motivo, apenas percebendo que há ali uma força maior em exercício pleno?
Algum tipo de sentimento o leva naquela manhã para Montauk, o único lugar que a racionalidade de sua consciência ou sua fúria frente ao abandono não conseguiu destruir. Montauk está em seu inconsciente, é um lugar que nada mais é do que um símbolo, o símbolo da expressão do sentimento do qual ele pensou ter se livrado.
Sentimentos não surgem ou são apagados a partir de um desejo racional de se iniciá-los ou de neles se pôr um fim. Não há um botão a ser apertado ou um manual a ser seguido. Não são conscientes e não se traduzem. Eles só vêm e vão. Independentemente da vontade, é impossível se fechar a trilha para Montauk.

* “Just wait... for a while”. (Joel)

O triste e mais interessante de se observar é que o encontro entre Joel e Clementine é finito. Um dia tudo acabará e os dois voltarão a ser solitários.
Não sei se com essa finitude das relações é realmente possível se ver a liberdade frente à solidão, já que o desfecho é sempre sabido de antemão... Entretanto, o ponto aqui em questão é o ideal do carpe diem
: aproveitar enquanto há o que ser aproveitado, pois “by morning, you'll be gone” (Joel):

Clementine: “This is it, Joel. It's gonna be gone soon”.
Joel: “I know”.
Clementine: “What do we do?”
Joel: “Enjoy it”.

Tanto esse “enjoy it” quanto o “ok” da última cena do filme é justamente o compromisso de se coexistir enquanto for possível, para assim se construir algo melhor. E esse algo melhor só é percebido em sua totalidade após o fim de tudo, pois ele é a memória. As lembranças é só o que lhes resta, é o que de mais valioso sobrará e durará daquele momento de coexistência e união com o seu solitário (e temporário) par.
Porém, o mais desolador disso tudo é a não consciência de que a lembrança é só o que realmente restará. Dentro do estado de angústia ao se estar caindo no abismo do abandono e novamente frente à solidão crua, procura-se apagar tudo. Apaga-se cada pedaço da memória numa tentativa desesperada de se acabar com a dor e soldar o coração partido, sem se notar que as lembranças são justamente o melhor consolo e a melhor cola.

* “What if you take me somewhere else, somewhere where I don’t belong?” (Clementine)

Joel e Clementine são como água e óleo, não basta tentarem ficar juntos se valendo do detergente de seus sentimentos um pelo outro. Ela odeia sua expressão de cachorrinho abandonado. Ele odeia a estupidez de seus cabelos coloridos. Ele é retraído. Ela é impulsiva. Ele desenha. Ela bebe. Ele é covarde. Ela desdenha. O que fazer?
Acho que não há como existir aqui a idéia clichê de completude. É claro que esse é um desejo natural e uma busca utópica humana, mas, no caso de Joel e Clementine, é principalmente a
idéia de se ter um contato brusco, profundo e intenso com aquilo que não se é.
Um foi levado pela geografia do outro a uma nova galáxia, e por esse motivo talvez “Joel + Clementine” seja finito. Por esse motivo talvez eles apagaram suas memórias. Por essa razão neles ainda permaneceu Montauk...

Não sei, não sei. Tudo muito complexo.

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Goodbye.
[
“Let's pretend we had one”. (Clementine)]

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(texto escrito no dia 28 de Maio de 2007 às 3am)

(o nome do filme foi retirado do famoso poema “Eloisa to Abelard” de Alexander Pope. A história verídica de Eloisa e Abelard remete ao ideal de que nada pode apagar lembranças ou a força de um sentimento).

(editando às 23h32 do dia 30 de Abril de 2008 > notícia interessante)