quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Sarah

trecho

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Sarah sai para comprar flores. Acordou ácida. Óculos escuros. O vestido roto. O rosto tão jovem, duro. Se encanta com acácias e orquídeas. Se demora na calçada ainda coberta por lavandas atrasadas. Foge ao sorriso da florista. Leva simples margaridas. Magras, amargas. Sarah sai para comprar margaridas amargas e um pouco de pão. Sua mão, gelo, encontra sua outra mão num acalanto. No meio da tarde. Ela se acarinha, sente a multidão perto de si. Não devia ter saído. Ele pode estar. Pode ser. Pode existir. E ela? E ela? Num semáforo qualquer. Olha a luz verde. Amarela. Vermelha. Faixas brancas e cinzas. Pés pequenos. Uma delicadeza desperdiçada no fim de pernas tão desajeitadas. Sente-se angulosa. E de novo seus quadris. Ombros. Relance de respiração na nuca. Ela se apóia. Amassa uma margarida. Volta pra casa. Senta. Aperta os dedos e se debruça sobre as coxas. Olha e olha. O tapete, a mesa, o teto. Suas costas agradecem o toque morno do sofá. Adormece de olhos abertos.


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