domingo, 28 de setembro de 2008

| viagem pra dentro da íris |

De trás da cerca de madeira espetou o dedo no prego achando que era espinho de flor. Com a dor despertou e viu a velha cerca coberta de musgo, a madeira posta na ordem triste do que não pediu pra acontecer. Procurou a flor que jurava estar ali. Percebeu que era só devaneio e pisou com força o pé no chão. O prazer da terra molhada se espalhou pelo seu sangue, machucou com cor seus lábios pálidos, incandesceu seu rosto que se virou para o céu. Olhou e viu o sol, correu a pupila pelo algodão borrado das nuvens, apertou o dedo machucado com o coração. (“Mas o coração é só um órgão, mãe”. “É sim, meu filho, mas é o mais dolorido de todos”). Caminhou ainda três passos com a pele tatuando a terra, com os olhos perdidos no manto do céu. Dentro dos três passos ensaiou uma pequena dança por dois continentes, arrastou sua mente por dunas azuis, se levou para o longe dentro do eterno. Ficou assim parado em vôo num canto do jardim, descalço e sozinho, com sangue pelos dedos e sol a se espatifar nos olhos. Decidiu não voltar, e saiu correndo atrás de sua flor.

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