quarta-feira, 3 de setembro de 2008

.minha coleção de palavras.

[em permanente atualização]

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“nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. o que acontece, meu filho, é que quase todos estão cegos (...)”.
(nas águas do tempo, mia couto)

“em qualquer lugar que estivessem se lembrassem sempre de que o passado era mentira, que a memória não tinha caminhos de regresso, que toda primavera antiga era irrecuperável e que o amor mais desatinado e tenaz não passava de uma verdade efêmera”.
(cem anos de solidão, gabriel garcía márquez)

“– as idéias não são de ninguém – disse. com o indicador, desenhou no ar uma série de círculos contínuos, e concluiu: - andam voando por aí, como os anjos”.
(do amor e outros demônios, gabriel garcía márquez)

“esperas uma carta de fogo
que te restitua o amor
e te remova do caos”.
(manhã metafísica, murilo mendes)

“o corpo humano não foi feito para os anos que a pessoa é capaz de viver”.
(do amor e outros demônios, gabriel garcía márquez)

“a paixão é o mundo a dividir por zero”.
(os infelizes cálculos da felicidade, mia couto)

a noite
me pinga uma estrela no olho
e passa”
([sem título], paulo leminski)

“há sempre um amor procurando seu nome
na solidão do livro dos tempos”.
(temas eternos, murilo mendes)

“(...) o amor era um sentimento contra a natureza, que condenava dois desconhecidos a uma dependência mesquinha e malsã, tanto mais efêmera quanto mais intensa”.
(do amor e outros demônios, gabriel garcía márquez)

“amar o perdido
deixa confundido
este coração”.
(memória, carlos drummond de andrade)

“seu corpo falava pelos olhos. e que olhos cristalindos!”
(joãotónio, no enquanto, mia couto)

“tarde aprendi
bom mesmo
é dar a alma como lavada.
não há razão
para conservar
este fiapo de noite velha”.
(o homem público nº 1, ana cristina césar)

“tua cabeça é uma dália gigante que se desfolha nos meus braços”.
(estudo nº 6, murilo mendes)

“sempre no meu amor a noite rompe.
sempre dentro de mim meu inimigo.
e sempre no meu sempre a mesma ausência”.
(o enterrado vivo, carlos drummond de andrade)

“aposto que o senhor não sabe chorar direito. chorar tem as suas técnicas, doutor. eu tenho muita certeza neste assunto. me formei em tristezas, sou cursada. a dor o que é? a dor é uma estrada: você anda por ela, no adiante da sua lonjura, para chegar a um outro lado. e esse lado é uma parte de nós que não conhecemos. eu, por exemplo, já viajei muito dentro de mim...”.
(os olhos fechados do diabo do advogado, mia couto)

o mundo comum acaba quando é visto somente sob um aspecto e só se lhe permite uma perspectiva”.
(a condição humana, hannah arendt)

“olhou os estrelejos no céu. as estrelas são os olhos de quem morreu de amor. ficam nos contemplando de cima, a mostrar que só o amor concede eternidades”.
(o perfume, mia couto)

“mas era ainda jovem demais para saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que graças a esse artifício conseguimos suportar o passado”.
(o amor nos tempos do cólera, gabriel garcía márquez)

“ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se não chorássemos”.
(ensaio sobre a cegueira, josé saramago)

“– adieu, dit le renard. voici mon secret. il est très simple: on ne voit bien qu’avec le cœur. l’essentiel est invisible pour les yeux.
– l’essentiel est invisible pour les yeux, répéta le petit prince, afin de se souvenir.
– c’est le temps que tu as perdu pour ta rose qui fait ta rose si importante.
– c’est le temps que j’ai perdu pour ma rose... fit le petit prince, afin de se souvenir.
– les hommes ont oublié cette vérité, dit le renard. mais tu ne dois pas l’oublier. tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé. tu es responsable de ta rose...
– je suis responsable de ma rose... répéta le petit prince, afin de se souvenir”.
(le petit prince, antoine de saint-exupéry)

“estou sentado junto da janela olhando a chuva que cai há três dias. que saudade me fazia o molhado tintintinar do chuvisco. a terra perfumegante semelha a mulher em véspera de carícia. há quantos anos não chovia assim? de tanto durar, a seca foi emudecendo a nossa miséria. o céu olhava o sucessivo falecimento da terra, e em espelho, se via morrer. a gente indaguava: será que ainda podemos recomeçar, será que a alegria ainda tem cabimento?”
(chuva: a abensonhada, mia couto)

“descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do zodíaco”.
(memória de minhas putas tristes, gabriel garcía márquez)

“às vezes numa pequena coisa pode-se encontrar todas as coisas grandes da vida, não é preciso explicar muito, basta olhar”.
(bom dia camaradas, ondjaki)

“não amadureci ainda bastante
para aceitar a morte das coisas”.
(o fim das coisas, carlos drummond de andrade)

“sempre vivi carente de alguma coisa. desassossegado, querendo tudo de uma vez, lutando rigorosamente por algo mais. estava aprendendo a não ter tudo de uma vez. a viver quase sem nada. do contrário continuaria com minha visão trágica da vida. por isso agora a miséria não me fazia muito mal”.
(trilogia suja de havana, pedro juan gutierrez)


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