quinta-feira, 5 de março de 2009

explosões



amanheci o hoje, tirei a espuma dos olhos e explodi algumas palavras. peguei-as pelas sílabas ainda quietas, agarrei com os nós dos dedos suas curvas e as fiz expandirem-se, dilatarem-se loucas, colapsarem ainda pendentes nos meus lábios. o calor das letras espalhadas me fez erguida na manhã, alerta e morna, com pedaços de palavras a escorrer pelas paredes. senti logo o orgulho de uma pequena liberdade: eu tinha o indizível... comecei a tatear sem pressa os espaços dentro do susto da mudez. mas então dos sentimentos agitados veio minha piedade, suave angústia. olhei os destroços com o peito. fui apanhando os cacos. recolhi fragmentos de sentidos quase perdidos, fui novamente sendo possuída por elas. entreabri os lábios. recoloquei-as todas dentro de mim. e fui tomar o café-da-manhã.



Nenhum comentário: