terça-feira, 4 de novembro de 2008

idéias, pedaços

(ouesquizofrenia”)

andei querendo escrever sobre a locked-in syndrome em metáfora, dizendo sobre a imaginação e os sonhos ou sobre as prisões onde nos escondemos, lá dentro de nós. hoje de manhã cogitei o assunto das pessoas despedaçadas, estranhas, fisicamente tortas e unicamente belas. não sei, a imagem de despedidas-despedaçadas também me surgiu com freqüência dias atrás... aquela idéia de deixarmos pedaços nossos no outro toda vez que dizemos goodbye. deu vontade de inventar história a partir de um “hello, stranger” (alice, closer), e a imagem gelada e doce de olhos de abacaxi com hortelã me acompanha há longas semanas. pensei em moinhos de vento, numa saia rodada. saia floral estampada, bem brega e inocente. o rascunho de ontem se intitulava “dos sonhos que se configuram tristes e inertes” (clarisse, legião) e ia ter como corpo apenas uma imagem de um dente-de-leão. ia doer só um pouco. fico ainda horas tentando lembrar aquele trecho de “wish you were here” (pink floyd). seria “we are just two losts souls swimming in a fish bowl”? não sei, não lembro. não me encontro com essa música há tempos. talvez algum dia eu me ache nas calçadas, quem sabe. cogitei o “le petit prince”, mas depois não soube mais o que fazer com ele, nem porque cogitei, nem o porquê de nada. à tarde-quase-noite quis em desejo-impossível escrever sobre pirandello e pessoa, colocaria nietzsche, mencionaria machado, entraria no tópico da vida como um teatro e da palavra como a representação máxima do nosso silêncio. aqui eu lembro de herberto helder, do conto “duas pessoas” e do meu trabalho sobre a solidão na palavra (gostei dele). hoje foi bom porque também lembrei da minha idéia antiga sobre uma poética do silêncio em tchékhov... é/era uma boa idéia. e fico aqui nesse papo furado de pseudo-intelectual até que vem à minha mente aquele sorvete vermelho de morango que é meu cúmplice tão amigo. ele bem que poderia ser líquido. meus olhos doem. lamento esse baú de imagens soltas e minha inabilidade pra moldar o mundo em letras. eu podia ter escrito algumas coisinhas com elas, rabiscado pequenos trechos de palavras e vento. mas a mente cansada não se deixa, o corpo pesado pede descanso, meus sentimentos pedem silêncio e a mão inábil e lenta desaba. ainda bem que acho que ainda penso. ainda bem que às vezes ainda choro.


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