sábado, 23 de agosto de 2008

sint(om)agmas

um rio de saliva se soltava da alma quando as amoras azedas tocavam a língua e saltavam nos dentes. / lábio pintado de sumo bordô. / vinho e passado escorrendo entre os dedos. / mel que cai da mesa, acaricia a fronte, se perde no tapete. / (com chá reguei devagar as tulipas na manhã de novembro). / pare de gritar dentro do abismo do seu travesseiro, espumas, plumas e penas ainda não têm ouvidos. / tarde tépida, criança perolada, a mão da mãe a molhar o teto de torpor. / toque piano quando a noite borrar a lua com a estupidez das nuvens. / silêncio nos postes. / vende meus olhos, derrame soluços ocos pelas pedras do meu jardim, não se esqueça de amanhecer os ventos. / contagem regressiva de vértebras pra te alcançar. / na cama, antes de dormir, cozinhe pontas de estrelas com fiapos de algodão. / enquanto o pescoço se deslocar nos teus braços, júpiter fará eternamente as pazes com saturno. / um ninho pousa dentro do vôo do pássaro. / e pena que a ternura que passei em você não uniu seus pedaços, mas ainda vou te costurar com lápis, borracha e tristeza.



[sob as notas suaves de radiohead e chopin]

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