quarta-feira, 27 de agosto de 2008

[sem título]

Uma boca desenhada que chama a um ardor despudorado, porém morno de tão cálido. Uma mão que queria sair pisando poros, escavando cheiros na procura incessante que envolve sua eterna curiosidade. Um olhar que fica gritando no silêncio de cílios negros e densos. Olhar que abraça sem nunca ser tocado, que se esconde e se mostra feito mariposa bailando tonta. Os dedos que se inquietam na impaciência, e assim são mordidos pelos dentes, tocados pelos lábios, umedecidos com saliva. E a sede que extrapola veias e vai penetrando ossos. O bater de pálpebras lento. A garganta atulhada com gavetas de palavras amassadas. O tórax e as pernas que se denunciam na linguagem da aproximação mansa e implacável. O roçar de epidermes ao acaso. O arrepio que dilata e afugenta o espaço em momento. O desajeito triste da timidez, do jeito gauche de viver a vida, da insegurança de ser no mundo. Ao mesmo tempo o peito feito deserto, aberto e quente, pronto pra receber chuva. E os braços feito colcha macia e doce, esperando pra receber um corpo.





[texto escrito em 08 de Julho de 2008]

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