sábado, 26 de julho de 2008

Un certain regard

Uma lagarta felpuda e densa deslizando em ondas de concreto. A moça que quase tombou da impáfia de seu salto alto e transparente. As azaléias de um rosa infame se derramando moles na admiração do olhar. A luz surgida no lugar mais impossível, incandescência no fim do corredor improvável. (Acho que só eu vi).
Troncos de árvores vistos de um inferior muito além, árvores essas frágeis e gigantes que acalentam em suas copas gomos de nuvem.
O homem que procurava o prédio da “fisolofia”. O pequenino inseto que passeia por este papel já maculado de escrita. A teia de aranha precária sobre o galho seco e em despreendimento de tudo. O vento que alisa minha nuca descoberta pela trança de lado ignorada.
A árvore pendente e triste chorando lágrimas verde-escuro, o cachorro que não entra em espaços público-privatizados, o inseto que agora se esconde atrás da folha talvez por medo das palavras. E, acreditem, borboletas que voam coloridas e um sol brinca de esconde-esconde com nossos olhos se deixarmos.

Um moço porto-alegrense
com sotaque lindo
que acabou de passar,
conversar sobre nada,
perguntar o nome
e ir-se pra sempre.

A vida às vezes é estranha e amarga,
mas ela pode se desdobrar num fundo doce
para os de olhos abertos e os abertos de coração.


post scriptum: O céu acizentou-se e o ar esfriou. De repente, o mundo ficou todo bege.

[texto escrito em 25 de julho de 2008, 15h30]

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