terça-feira, 22 de julho de 2008

Comendo pipoca doce à meia-noite

Adoro ser apaixonada por cinema. Gosto daquelas poltronas fofas do mesmo modo que gosto do pause do DVD junto com meus travesseiros espalhados pelo sofá.
Acabei de assistir a um filme francês chamando “Cœurs” (2006) (“Medos privados em lugares públicos”, na tradução para o português). É o meu segundo Resnais. O primeiro foi “On connaît la chanson” (1997). Cinema francês é assim: ou você ama ou você odeia. No meu caso, estou aprendendo a amá-lo. Hoje mesmo percebi umas coisas muito interessantes em relação à forma como o diretor Alain Resnais filma. Gostaria de assistir a outros filmes dirigidos por ele para assim poder fazer mais comparações. Em todo caso, a fotografia estava bela e o movimento da câmera filmando determinadas cenas do alto foi primoroso.
O tema tratado é delicado e, assim como em “On connaît la chanson”, há uma estrutura que dou o nome de estrutura à la “Quadrilha” (em referência ao
poema do Drummond). Tratar os desencontros humanos, bem como a solidão, o isolamento, os desejos secretos e a decepção usando essa estrutura resulta num filme sutil, cuidadoso, com toques de humor e, ao mesmo tempo, com um certo tom cinza, gelado, dividido. Gosto disso. (Atenção especial à neve, coadjuvante sempre presente e personagem principal numa das cenas mais belas de “Cœurs”).
Outro filme francês que assisti recentemente foi “Le scaphandre et le papillon” (2007), e esse entrou na “the best list”. O filme é lindo. O enredo, baseado em fatos reais, não é dos mais fáceis de se assistir, pois é profundo e dolorido. Mas, ao mesmo tempo, ele permite que você saia da sala de cinema com uma imensa vontade de viver, de tocar o mundo, de cheirar pessoas e ir bebendo e saboreando gota a gota as migalhas de vida que você pode encontrar por aí. É um filme indispensável.
Tanto “Le scaphandre et le papillon” quanto “Cœurs” abriram a temporada de idas ao cinema
all by myself. Eu sempre achei que ir ao cinema sozinha era algo deprimente e sem a mínima graça (culpa de uma longínqua experiência em que assisti a um filme praticamente sozinha numa gigantesca sala do Cinemark). Mas, depois de ir assistir sozinha a esses dois filmes, descobri que na verdade é ótimo. Além de não haver discussões relacionadas ao horário, ao que assistir, ao preço da pipoca e ainda comentários de desagrado quando o filme acaba, você tem mais tempo só com os seus pensamentos para absorver tudo o que se passou na tela.
Porém, como não podia deixar de ser, eu ainda mantenho as minhas boas e velhas sessões de DVD em casa. Ontem mesmo assisti a um filme que há tempos estava me esperando guardado na gaveta: “Mar Adentro” (2004), do meu já querido Alejandro Amenábar. A relação entre esse filme e “Le scaphandre et le papillon” é impossível de não ser feita. Os dois filmes retratam protagonistas praticamente na mesma situação e ambos impõem a escrita e publicação de um livro como metas vitais. Além disso, “Mar Adentro” também foi baseado numa história real.
Um amigo recentemente estabeleceu a relação direta entre “Mar Adentro” e “Million Dollar Baby” (2004), de Clint Eastwood. Essa relação se dá inclusive temporalmente, já que os dois filmes foram lançados no mesmo ano e, se não me engano, foram exibidos nos mesmos festivais de cinema.
Na minha humilde opinião, um filme nunca pode ser dissociado de sua trilha sonora. Ela é capaz tanto de engrandecer como de empobrecer qualquer tentativa cinematográfica. Por esses dias assisti a um filme em que a trilha sonora lhe deu camadas quase sinestésicas, como se as músicas juntamente com as cenas permitissem sentir o cheiro das paisagens, sentir o vento, o frio e o sol que acompanhou aquela viagem de tentativa de libertação. O filme a que me refiro é “Into the wild” (2007), dirigido por Sean Penn e com a trilha sonora sob a responsabilidade da voz grave de Eddie Vedder. Achei o filme em si bom, porém, acredito que a qualidade da trilha sonora, com seus tons simples, naturais, de levada folk, gerou nele uma nova dimensão significativa.
Um outro ponto destacável em “Le scaphandre et le papillon” é justamente sua trilha sonora. Ela é diversa e, por isso mesmo, muito curiosa, já que alguns momentos de emoção neste filme só são despertados pelo ápice de uma música cuidadosamente escolhida explodindo sobre determinada cena.
Para finalizar, só umas palavras sobre “Vanilla Sky” (2001), que reassisti semana passada: sou apreciadora incondicional da fotografia desse filme. Nem vou entrar no enredo porque o “só umas palavras” poderia virar um novo post. Apenas remarco que aquele céu de Monet e o “Sophia-way-of-life” me encantam em “Vanilla...”, assim como também me encanta aquela trilha sonora mágica.

(Corta!)


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