sexta-feira, 10 de outubro de 2008

virando lagarta

hoje acordei com o dobro do meu tamanho. minha pele acolhia pequenas escamas de tom verde. meus olhos se fechavam doloridos com o frescor da luz.
ah, mas ontem, que asas lindas..., tão negras e acetinadas, bastava um sopro para arrepiá-las de cor. afogueadas e densas, tremiam e se enroscavam faceiras no ar, piscavam sorrisos, se orvalhavam na noite. mas hoje, amanheceram vermelhas e tristes, foram ficando laranjas abandonadas, cinzentas sozinhas, brancas e tão caladas... puro pó.
começo a construir devagar meu casulo. vou arrastando meu corpo frágil e flácido pela relva, sonhando com o balanço dos cacos de vento pelo céu. à medida que me esforço para acariciar as folhas secas caídas, convencedo-as a me dar abrigo por um tempo, vou diminuindo. quando consigo entrar no meu casulo já estou tão pequena que quase de mim me perco. fico bem quieta lá no fundo me ouvindo novamente crescer, tendo certeza de alguma vida, saboreando antigos cheiros de maçã. e por uma suave fresta nas folhas vou espiando pedaços do céu, olhando desejosa os amanhãs, só pra poder de novo, quem sabe um dia, virar borboleta.



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