domingo, 19 de outubro de 2008

going away


seus ouvidos suspiravam com o vento a tentar perfurar as janelas. os trilhos macios recebiam sem palavras sua fuga sem volta, e alguém tocava com dedos leves alguma música somewhere. de tempos em tempos, sua cabeça balançava devagar dentro dos acordes, seus lábios ensaiavam um cantarolar suave, e só as árvores grandes tinham tempo de fitar seus olhos e de tocar seus pés insanos a correr do mundo.
o caminho ia sendo engolido aos poucos pelos vazios que deixava pra trás. na dança macia e doce do escapar ela se sentia encontrada no longe, perdida no sempre.
colhia de leve os pensamentos que desejava guardar dentro de si, só para saborear um dia no céu da boca pinceladas de saudade, ou ao menos os restos da nostalgia azul que sua mãe lhe deixara e que carregaria pelo resto da vida. amarrou devagar todas aquelas lembranças com laço de fita, e deixou-as caídas e pálidas na memória do esquecimento.
sorriu. abriu as janelas do trem. permitiu ao vento que machucasse seu rosto e maculasse seus cabelos com cheiro de mato e mar. fixou fundo o horizonte sem forma. os olhos de propósito bem abertos arderam nas lágrimas involuntárias. fosse felicidade, fosse tristeza, realmente não importava. ela só estava indo embora.

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