sábado, 6 de dezembro de 2008

Marias


Na sala de espera, vozes ecoam. Maria Aparecida, Maria do Carmo, Maria das Dores. Marias de todos os cantos e por todos os santos.
Nas cabeças, tranças desmanchadas, cachos abandonados, fios perdidos, gorros, lenços. Marias enodoadas, cancerígenas. O olhar poroso, as veias secas. O passo mancado. Peles trincadas pela terapia química.
É no hospital, naquelas cadeiras, macas, nas informações complicadas em linguagem dotoral, que só uma mensagem calada se espalha: a do medo choroso dentro da morte.
Minhas Marias, tão queridas, amputadas na sua feminilidade mais doce. Seios perdidos, úteros arrancados. A esperança pendente nas pontas dos dedos ou nas agulhas nos braços. Ossos doídos, futuro manchado. Que vivam ainda minhas Marias, todas lindas: maculadas.

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