[silêncio]
(“Mas meu sonho é mudar o mundo inteiro, mãe...”).

[texto em construção, 21/11]
Talvez a melhor época, as mais inocentes risadas, o cansaço e a alegria mais sinceras, as lágrimas mais redondas porque geralmente compartilhadas. Talvez amizades para a vida inteira. Com certeza o baú mais leve e mais pesado que a gente vai carregar pelas ruas da velhice, aquele que trará a saudade doce e ácida do passado largado lá na juventude, lá, lá longe, perdida no meio do nosso cheiro de naftalina e poeira do tempo.
Estou com medo do fim. De ter que sair lá fora, olhar o sol e ver o que há de vir. O que há de vir, afinal? (Medo).
Estou molhando as lembranças, cultivando sua terra, acariciando seus frutos com carinho e arranjando tudo cuidadosamente. Que elas sejam o meu melhor e que eu também consiga guardar algumas pessoas amarradas aqui dentro, só pra nunca esquecer.
vento no rosto que nunca acaba. sopros, sopros, sopros. your hands used to be beside me. suspirando o vento, vento a suspirar suspirado. adeus pelo vidro. não, não feche a janela. never close the doors. há uma pomba perto do pára-brisa. brisas, asas. abertas. talvez chova. guardarei as gotas. não, não chore. i'll be back, i'll be back soon (...).
(ou “esquizofrenia”)
andei querendo escrever sobre a locked-in syndrome em metáfora, dizendo sobre a imaginação e os sonhos ou sobre as prisões onde nos escondemos, lá dentro de nós. hoje de manhã cogitei o assunto das pessoas despedaçadas, estranhas, fisicamente tortas e unicamente belas. não sei, a imagem de despedidas-despedaçadas também me surgiu com freqüência dias atrás... aquela idéia de deixarmos pedaços nossos no outro toda vez que dizemos goodbye. deu vontade de inventar história a partir de um “hello, stranger” (alice, closer), e a imagem gelada e doce de olhos de abacaxi com hortelã me acompanha há longas semanas. pensei em moinhos de vento, numa saia rodada. saia floral estampada, bem brega e inocente. o rascunho de ontem se intitulava “dos sonhos que se configuram tristes e inertes” (clarisse, legião) e ia ter como corpo apenas uma imagem de um dente-de-leão. ia doer só um pouco. fico ainda horas tentando lembrar aquele trecho de “wish you were here” (pink floyd). seria “we are just two losts souls swimming in a fish bowl”? não sei, não lembro. não me encontro com essa música há tempos. talvez algum dia eu me ache nas calçadas, quem sabe. cogitei o “le petit prince”, mas depois não soube mais o que fazer com ele, nem porque cogitei, nem o porquê de nada. à tarde-quase-noite quis em desejo-impossível escrever sobre pirandello e pessoa, colocaria nietzsche, mencionaria machado, entraria no tópico da vida como um teatro e da palavra como a representação máxima do nosso silêncio. aqui eu lembro de herberto helder, do conto “duas pessoas” e do meu trabalho sobre a solidão na palavra (gostei dele). hoje foi bom porque também lembrei da minha idéia antiga sobre uma poética do silêncio em tchékhov... é/era uma boa idéia. e fico aqui nesse papo furado de pseudo-intelectual até que vem à minha mente aquele sorvete vermelho de morango que é meu cúmplice tão amigo. ele bem que poderia ser líquido. meus olhos doem. lamento esse baú de imagens soltas e minha inabilidade pra moldar o mundo em letras. eu podia ter escrito algumas coisinhas com elas, rabiscado pequenos trechos de palavras e vento. mas a mente cansada não se deixa, o corpo pesado pede descanso, meus sentimentos pedem silêncio e a mão inábil e lenta desaba. ainda bem que acho que ainda penso. ainda bem que às vezes ainda choro.